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Calçada

(Autoria: Márcia Homem de Mello)

em agosto de 2019

Ali, na calçada, fiquei.
As portas do carro fecharam-se.
Partis-te.
Juntei as bagagens, os meus conflitos e caminhei.
Uma calma estranha somada ao vazio.
Não me disseste nada.
Alimentei o nada de ilusão.
Fantasiei você com sonhos.
Cobri-te de amor e ganhei solidão.
Criei um mundo paralelo.
Nele seriamos felizes.
Andaríamos de mãos dadas como a primeira vez.
Sentaríamos a beira do Tejo.
Falaríamos do tempo perdido.
Cuidaria de ti e você de mim,
Como fazem os casais envelhecendo juntos.
Veríamos os seus filhos crescerem e darem-te netos.
Enquanto no inverno, junto da lareira,
Leríamos a nossa própria história.
Faz frio aqui.
A vida, sem sonhos, está congelante.
Fria é a morte.
Da única certeza que hoje existe.
O resto, ficou na calçada.

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