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Caminhar

(Autoria: Márcia Homem de Mello)

em abril de 2020

Sempre foi de cabeça erguida.

Olhar adiante.

Impulso de morte soava inconsciente.

Um jeito de não rever histórias.

De engolir mágoas, sentimentos ruins.

Uma gana de não dar chance ao fracasso, tão esperançado.

Nunca, jamais por mim, sempre pelo outro.

Um desejo de que eu não estivesse cá.

Sempre do outro, nunca, jamais por mim.

Foi assim desde a consciência do ser que sou.

De ser quem sou.

Sensação de que acabei no que evitei.

Um monte de argila, moldada pelos reflexos.

Instinto de proteção, sobrevivência!

Caminhar tornou-se cansativo.

Nunca, jamais por ingratidão, sempre reconheci.

Preciso repousar, quero os colos que não tive.

Sempre dos outros, nunca, jamais faltou o meu próprio.

A solidão nem me assustava.

Mas, olhar sempre para o vazio, pesou.

Avancei pelo oceano, fugi dos venenos.

Tolice. Eles não têm limites, vieram buscar-me.

Acordo, abro os olhos, vazio.

Pra que? Por quê? Quando?

Nunca, jamais faltou meta, sempre houve direção.

Compartilhar as ausências, vencer doença...

Foi por mim, nunca, jamais pelos outros.

Agora? Mais uma vez, precisa ser por mim.

Repetidamente, por mim.

A alma cansou do vazio.

Hoje tem, amanhã não mais.

Uma gangorra que sempre se esvazia do outro lado.

Nunca, jamais por mim, sempre pelo outro.

Transbordo amor, tanto que chega a sufocar.

Sempre por mim, nunca, jamais só pelo outro.

Amores e ausências

Os vazios se apresentam.

Caminhar pra que?

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