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Nunca foi

(Autoria: Márcia Homem de Mello)

em dezembro de 2019

Nunca foi a mim a sua escuta e a sua fala.

Nunca foi por mim o seu desejo e o seu objetivo.

Nunca foi por mim o seu pensamento e o seu texto.

Nunca foi por mim.

Fui a projeção da sua raiva e da sua dor.

Fui o alvo da sua deceção e dos seus medos.

Fui o seu limão espremido e calcado.

Fui o depois, do depois, do quem sabe um dia.

Sou a imagem espelhada dela.

Sou a sombra dum passado.

Sou o veneno do seu sangue.

Sou a constatação da sua infelicidade.

Apenas uma oportunidade.

Apenas uma opção.

Apenas o seu remédio.

Apenas um descarte.

A eterna ameaça.

O eterno ímpeto.

O eterno casulo.

A eterna fuga.

Não era de mim, mas de ti.

Não fomos, era unilateral.

Não houve entrega, só defesa.

Não existiu realidade, só fantasia.

Nunca foi sem consentimento.

Nunca foi sem respeito.

Nunca foi sem amor.

Nunca foi sem zelo. O meu!

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