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Ano novo, coração novo
por Fernando Puga - Site Bolsa de Mulher

Réveillon é a hora de renovar esperanças no futuro, respirar fundo e, por mais que tudo esteja uma M maiúscula e capitulada, acreditar que, de alguma forma, o ano que vem vai ser o tempo da bonança. A questão é que, por mais que se acredite no poder de transformação das tradicionais mandinguinhas e das proteções sobrenaturais, quase nada muda em nossas vidas se uma atitude própria não for tomada. É pensando nisso que muita gente aproveita a virada do ano para promover transformações gerais, principalmente no campo dos relacionamentos. São casais que, depois de um bom tempo empurrando a infelicidade com a barriga, se desfazem em plena noite de réveillon, aproveitando o emabalo de ano novo com vida nova.

A jornalista Ana Carolina Passarelli já estava há cinco meses namorando, por namorar. Mas, quando o fim do ano foi chegando, os dois já viviam às turras, problema que afetou inclusive as resoluções sobre a comemoração da virada. “Ele empatava tudo e com o réveillon não foi diferente. Acabamos combinando uma festa na casa de uma amiga minha que nem era o que eu queria, mas era o melhor que eu tinha conseguido. No dia 31, de tarde, a gente estava indo pra festa e começamos a discutir no carro... e era aquilo todo dia. Chegou uma hora em que eu disse ‘chega’ e ele acabou me deixando em casa. Eu não queria virar o ano com ele que era chato, pegajoso, tinha medo de aquilo me dar azar”, confessa ela, que acabou passando mesmo o ano novo na tal festa. Mas antes só que mal acompanhada. “Só tinha casal, não foi nenhuma maravilha, mas eu passei a meia-noite aliviada. Foi o melhor que eu pude fazer”, garante Ana Carolina.

Experiência muito parecida viveu a publicitária Renata Leite, que decidiu em comum acordo com o namorado, terminar o relacionamento de oito anos, que também já vinha se arrastando, junto com o ano velho. “Nós já estávamos mal, desde um pouco antes do Natal. Conversamos sobre o fim e, embora estivéssemos sofrendo, percebemos que era o único jeito. Como já estávamos juntos há muito tempo, tentamos terminar aos poucos, deixar morrer. Passamos o dia 31 todo juntos, meio em clima de despedida, o que nunca é bom, pra falar a verdade, mas acabou deixando a noite especialmente emocionante”, conta ela. No dia seguinte, porém, a ressaca sentimental falou mais alto. “Acabou sendo ruim, porque já tínhamos deixado claro que íamos ficar sem nos falar por um tempo e cada um foi pra um canto. Senti um vazio muito grande mas, ao mesmo tempo, o ano novo começando me dava um certo fôlego pra recomeçar. Ainda sofri bastante depois, mas acho que ter escolhido a virada do ano pra terminar aquela fase da minha vida me ajudou bastante a pensar melhor em mim para o futuro”, avalia.

Mas nem sempre essa escolha perigosa de misturar uma data festiva com um momento de perda surte os efeitos esperados. Na casa da médica Fabiana Gonçalves, a separação dos pais sacramentada no dia do réveillon, como era de se esperar, acabou com o astral e o espírito de comemoração. “Meus pais já não estavam bem há algum tempo e o assunto separação já havia sido tocado. Tínhamos combinado uma festa em casa mas, no dia, de tarde, meu pai disse que estava indo embora passar a virada com outra mulher. Foi uma bomba”, lembra Fabiana. Sua mãe bem que tentou manter a peteca no ar mas, diante da confusão de sensações, acabou se rendendo à tristeza, o que arrastou a família inteira. “Foi um réveillon péssimo, meu pai não poderia ter sido mais infeliz na decisão dele. Uma coisa é terminar um namorinho no dia do réveillon, outra é acabar um casamento com filhos e até netos, envolvendo outras pessoas e, pior, ressaltando que estava indo ficar com outra mulher. Mas, enfim, tudo se supera”, considera Fabiana.

Na opinião da psicodramatista Márcia Homem de Mello, aproveitar o embalo de rituais de passagem para promover mudanças em diversos aspectos é algo muito comum e até saudável. “É como aquela dieta, que a gente sempre vai começar na segunda-feira, que é também quando começa a semana. É justamente por conta do ritual, mesmo. É como se as pessoas tivessem necessidade de um simbolismo, de uma coisa mais concreta pra colocar em prática o que não é concreto”, diz ela. E tirar proveito disso pode ser mesmo  altamente positivo. “Exteriorizar é sempre bom, de qualquer maneira, expressar um sentimento é sempre válido, mesmo que seja um sentimento negativo. É claro que o bom senso deve falar alto também nesses momentos e, antes de tomar certas decisões, avaliar o envolvimento de outras pessoas, as dimensões que aquilo pode tomar, etc. Mas, de qualquer maneira, é melhor do que ficar empurrando com a barriga”, considera Márcia, lembrando que ano novo é pra isso mesmo: renovar. “E a felicidade e a tranqüilidade não podem esperar”, conclui ela.

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