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A consulta psicológica via internet já existe. E, mesmo longe de ser unanimidade, se tornou alternativa para quem busca praticidade e uma certa dose de anonimato na hora de discutir seus problemas e buscar orientação 
Por: Gustavo Klein 1 5 / J U N / 2 0 0 8 - A T R E V I S T A
 

Os programas de mensagens instantâneas, co- mo MSN, Google Talk e Yahoo se tornaram padrão na comunicação, substituindo o telefone e ­ até ­ o contato pessoal, para muita gente. E, como reflexo desta realidade, estão sendo adotados em ocasiões que, até pouco tempo atrás, não podiam ser imaginadas sem a presença física dos envolvidos. Como uma consulta psicológica, por exemplo. O divã virtual já existe e tem um caráter muito mais profissional do que aquela pessoa que gosta de ajudar os amigos. O funcionamento é simples: a pessoa agenda um horário com o terapeuta e, durante esse período, conversa com ele, via Messenger ou voz, expondo seus problemas e buscando orientação. Outra modalidade é a consulta por e-mail, disponibilizada por muitos profissionais. Desse processo surgem várias questões. Até que ponto, por exemplo, a orientação on-line pode ir, ou seja, a partir de que momento o contato entre o profissional e o cliente se torna fundamental? Se o atendimento pessoal permite ao profissional avaliar gestos, olhares e tons de voz, o diálogo sob a intermediação do computador dá ao paciente um certo grau de anonimato que lhe possibilita falar de assuntos dos quais não teria coragem em outra situação. O assunto não podia despertar mais polêmicas, especialmente entre os profissionais da área. O psicólogo Luiz Cancello, professor da Universidade Católica de Santos (UniSantos), não vê diferenças significativas entre uma consulta ao vivo e outra feita pelo computador, desde que englobe câmera e voz."O diálogo cara a cara é preferível, mas, às vezes, isso não é possível e conversar vendo o interlocutor e ouvindo sua voz é quase como estar ao lado dele. O CVV (Centro de Valorização da Vida) atende, há vários e vários anos, pessoas por telefone, sem que esse método tenha sido questionado". O especialista argumenta que as relações pela internet são uma realidade."Adolescentes, principalmente, têm experiência no assunto e desenvolvem uma intimidade impressionante com gente que só conhecem por esse meio.A maioria das pessoas acha um absurdo quem se apaixona pela internet. Mas essas mesmas pessoas, talvez, se emocionaram com o filme Nunca Te Vi, Sem pre Te Amei, em que os protagonistas se apaixonam por meio de cartas. Que eu saiba, ninguém aplicou ao filme essas considerações negativas". Para reforçar, Cancello lembra de um caso pessoal, quando uma de suas pacientes se mudou para outro país e teve a necessidade de uma orientação."Conversei com ela, como amigo, sem cobrar nada, em umas seis oportunidades, pelo Skype, com câmera e microfone. A partir de um certo momento, me esqueci de que estávamos falando pela internet". Ele reconhece que talvez esse processo tenha sido facilitado pelo fato de já conhecer a pessoa antes do diálogo pelo computador."Mas gostaria de experimentar esse mesmo tipo de contato com alguém que não conheço pessoalmente". 

Com maior experiência na orientação on-line, a psicóloga carioca Luciana Nunes tem mestrado em Saúde Mental e é membro da International Society for Mental Health Online, entidade internacional que rege e orienta as atividades relacionadas à psicologia via internet. Ela argumenta que, fora do Brasil, o assunto tem sido estudado há anos. "Há um vasto material de pesquisa disponível que embasa o trabalho". No Brasil, diz, a atividade carece de estruturação.A especialista é a favor do selo instituído pelo Conselho Federal de Psicologia."Com ele, a população se protege de profissionais duvidosos. De toda forma, deveria haver maior apoio a quem faz um trabalho sério". A internet, argumenta Luciana, que é diretora do site PsicoInfo (www.psicoinfo.com.br), é uma ferramenta que não pode ser ignorada."A psicologia deve acompanhar o ritmo do mundo e o desenvolvimento tecnológico. Não tenho dúvidas de que internet funciona em casos específicos". Mesmo avaliando que o acompanhamento on-line é extremamente limitado, ela vê muitas vantagens. "Não funciona para todo mundo nem para todos os problemas, mas tem seu valor, é um campo bastante amplo". Uma das pioneiras da área, a psicoterapeuta e psicodramatista Márcia Homem de Mello define o perfil de quem prefere o atendimento on-line."Pessoas tímidas, com dificuldade em se expressar ou com filhos novos, que moram em cidades pequenas, fora do eixo Rio-São Paulo ou até fora do Brasil. Aquelas com dificuldades em lidar com sua sexualidade, assunto que sempre provoca maior embaraço". 

Selo de aprovação 
Até pouco tempo, o aconselhamento via internet só podia ser feito em caráter de pesquisa e, por isso, sem que o profissional recebesse pagamento, sob pena de problemas com o Conselho Federal de Psicologia (CFP). Hoje, alguns tipos de orientação, como a profissional, podem envolver honorários, mas ainda assim precisam ter a aprovação e o selo do Conselho (mais informações sobre o selo, assim como uma lista dos sites aprovados, podem ser encontradas em www.cfp.org.br/selo). Já o atendimento psicoterapêutico propriamente dito ainda é feito de forma experimental. Por isso, não pode ser cobrado e, para ser aprovado, precisa de avaliações em critérios técnicos e éticos, que foram estabelecidos pela resolução 012/2005 do Conselho. A psicóloga Andréa Nascimento, conselheira da entidade e uma das responsáveis pelo credenciamento de sites, garante que o objetivo principal do CFP é proteger o usuário. Para informar ao público quais são os sites que estão aptos a oferecer o serviço, o CFP criou um selo que deve constar na página de abertura do endereço eletrônico e que só é concedido após o serviço oferecido ser referendado pela entidade. 

Jovens e vestibular
As mensagens via internet são populares especialmente entre os adolescentes. Foi por estar atento a isso que Paulo Motta, professor da Unesp, criou um serviço de atendimento psicológico a vestibulandos por meio do MSN, de forma gratuita, e que também aborda a orientação vocacional. O motivo é o alto nível de estresse por que passam os jovens nessa fase de escolha da profissão e da indefinição sobre os resultados da prova. A intenção era ampliar o acesso às informações. "Queríamos atender não só a nossa região, mas todo o Brasil". Ele e um grupo de 16 estagiários do quinto ano de Psicologia promovem um rodízio no atendimento, que acontece de segunda a sexta em horários variados.A média de consultas é alta, cerca de 20 por dia, mas com picos bem maiores."A última vez que o serviço foi noticiado em um portal de grande audiência, tivemos um congestionamento monstro, com mais de 300 pedidos de autorização de contato, na mesma hora, de todo o Brasil". Motta concorda que a orientação via MSN é menos completa, mas argumenta que, em alguns casos, é preferível a nenhum atendimento."A consulta presencial oferece mais possibilidades, mas o MSN propicia um anonimato que, muitas vezes, é desejado pelos jovens. Por outro lado, pela internet, é muito difícil um direcionamento, pois entram dez pessoas ao mesmo tempo. De qualquer modo, antes ter a possibilidade de conversar com alguém sobre suas angústias e medos, mesmo que rapidamente, do que não ter tal oportunidade". O serviço pode ser acessado por meio do e-mail orientacaovoc@hotmail.com e, neste ano, funcionará até o dia 3 de outubro (com uma parada durante as férias de julho). 

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