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"Terapia pela rede gera polêmica"
Por: Fabíola Sanches - Jornal Estado de Minas -01/03/99 ©


Terapia pela Internet, em tempo real. Essa é a proposta do serviço "Psicólogos On Line" (antigo nome de Psy_Coterapeutas On Line) lançado a menos de um mês por um trio de psicólogos brasileiros. A iniciativa é inédita no Brasil e visa incorporar a Internet como ferramenta de trabalho no atendimento terapêutico. Psicólogo e paciente conversam pelo chat do ICQ ( do inglês "I seek you"), uma vez por semana durante 50 min., em sessões previamente combinadas via E-mail.
"A idéia não é fazer um processo de terapia completo, mas mostrar como funciona o atendimento. Muitas pessoas pensam que quem faz terapia é doido ou tem um problema muito sério. Queremos desmistificar essa idéia. É claro que existem casos clínicos que não são tratáveis em ambiente virtual. Essas pessoas são orientadas a procurar um profissional pessoalmente", explica Márcia Homem de Mello, criadora do serviço. 
Sigilo
Eles atendem pessoas de qualquer lugar do País com exceção de menores de idade, mas não revelam quantos pacientes já possuem. "Eu não sei nada sobre os clientes de meus colegas. Todas as informações da terapia são sigilosas. É uma questão de ética", afirma Márcia. O terceiro artigo do Código de Ética da profissão prevê que é dever do psicólogo garantir condições ambientais adequadas à segurança da pessoa atendida bem como à privacidade que garanta o sigilo profissional. Como assegurar sigilo absoluto no ambiente da Internet?
A própria psicóloga, que também tem formação em Informática, admite que "100% de segurança" é impossível. Para minimizar os riscos de ter uma mensagem interpretada, ela orienta seus clientes a configurar o ICQ de forma a não revelar o número que identifica o computador na Internet chamado de "IP Number". Como conhecer este número é fundamental para a ação dos hackers. Além disso, seria necessário saber quais provedores psicólogos e terapeuta utilizam para se conectar à Internet e horário das consultas. "Não é uma tarefa simples, requer tempo e dedicação. A informação a ser obtida tem de ser muito importante para motivar esse esforço. O ideal mesmo é usar criptografia como fazem os sites de bancos", explica o analista de sistemas Fabricio Konzem.
Emoções
A idéia para criação do serviço nasceu da experiência pessoal dos psicólogos em chats. Segundo Márcia, muitas pessoas procuram as salas de bate-papo para extravasar sentimentos como raiva, angústia, tristeza. "É comum encontrar gente chorando do outro lado da tela com problemas em casa ou no trabalho. Nas sessões de chat, quando as pessoas descobriam que eu era psicóloga, começavam a me contar seus problemas. Mas, nem sempre existem pessoas preparadas para ouvir".
De acordo com o site Psicólogos On Line, a terapia virtual é indicada para pessoas que "enfrentam questões rotineiras como, qualquer limitação, temporária ou permanente, que impeça o deslocamento a um consultório, a vivência de situações desagradáveis, inclusive, decorrentes do próprio ambiente virtual". A psicóloga explica que problemas relacionados a paixões virtuais, brigas entre comunidades da rede e até mesmo "vícios de Internet" - pessoas que ficam horas a fio conectadas à rede ou que tem fixação com sites de determinados temas - podem ser tratados pela própria Internet. Seria algo semelhante a tratar um dependente de jogos numa casa de bingo? Ela garante que não: "o serviço é uma primeira porta. Vai chegar a hora em que vamos dizer: 'Que tal procurar um terapeuta na sua cidade?'".
Para iniciar o tratamento, o interessado precisa dispor de um lugar tranqüilo, onde possa se conectar à Internet sem ser incomodado. Durante as sessões, precisa se comprometer a usar o ICQ somente para conversar com o terapeuta

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