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"Bloggando"
Márcia Homem de Mello©

Peguei uma mania de uns dias para cá, de bisbilhotar os bloggs alheios. De gente que não sei quem é, às vezes nem de onde são, mas vejo muita coisa bacana. Está certo que tem também muita coisa vazia, nada com nada, só ocupando espaço ou para dizer que tem.
Tenho visto tanta gente criativa, impressionante como temos artistas naturais!
E como a Internet tem propiciado a essas pessoas falarem de si de forma natural, sem preconceitos. Diários de mães falando de seus filhos, da tarefa de ser mãe. Histórias de gente com problemas de drogas e bebidas. Poetas, desenhistas, escritores, profissionais, estudantes. Anônimos muitas vezes atrás de apelidos se libertam para falar de si e ouvir opiniões alheias. Gente alegre, triste, solidária, sozinha, rebelde, surpreendente, turmas, pessoas dispostas a contar o dia-a-dia para estranhos, diferente dos diários de antigamente, trancados até com cadeados...
Fascinante ver principalmente o bom humor com que as pessoas tem conseguido lidar com as situações diárias.
Mas o ponto mais importante tem sido a possibilidade de poder trocar informações, de poder saber que os problemas são parecidos, perder a sensação de ser a única pessoa no mundo com aquela situação, ouvir o que os outros dizem, sem saber quem é q esta ali.
Eu como sempre positiva, acho isso tudo benéfico. Porque têm feito as pessoas lerem e escreverem mais, mesmo que seja como eu faço, abreviando, resumindo idéias. Ou como os adolescentes ou internautas usando uma linguagem diferenciada nesse mundo virtual. É uma forma de expressão. Virou o espaço do "Tudo Pode". ("Tudo Pode" literalmente entre aspas, porque existem regras.)
Como diz o dicionário, representar em obra de arte, conceitos, sentimentos, estados de consciência, fazer conhecer as suas idéias ou sentimentos. O que me leva a um artigo que li dia desses, do Ruy Fernando Barbosa(*) no qual dizia que escrever é terapêutico. O artigo é de 98, e fala justamente dos diários adolescentes: "O fato é que conheço de perto as vantagens terapêuticas do ato de escrever. Sobretudo quando escrevemos para nós mesmos, no espaço protegido de um diário adolescente - todo diário é adolescente, mesmo o de quem já passou dos cinqüenta. E mais ainda quando falamos de nossos  sentimentos." Pois é, o espaço não é mais protegido. Apesar de sabermos que muita coisa não é dita abertamente, não é verdade?
Assim como ele, o Ruy, tenho por hábito pedir que meus clientes escrevam cartas quando não conseguem falar algo para uma pessoa, mesmo que a carta não seja entregue. "Ao escrever sobre sentimentos nós os pensamos, ficamos mais em contato com eles. Podemos aceitá-los. Percebê-los melhor, eventualmente associá-los a suas causas, os significados interiores de que eles resultam. Elaborá-los. Às vezes eles se diluem, dando espaço a sentimentos mais profundos, que os primeiros apenas disfarçavam. Uma tristeza inicial dá lugar a uma raiva - ou, surpreendentemente a uma alegria." relata Ruy, no que concordo totalmente. 
Assim como os diários de antigamente, nos quais se colocavam fotos, colavam adesivos, prendiam papéis de bala, escreviam-se frases, músicas, poemas, faziam-se desenhos, declarações com códigos, são também os bloggs. Com recursos tecnológicos avançados, mas com sentimentos iguais aos das gerações dos diários de papel.
Existe uma dedicação especial de alguns ao visual do blogg, verdadeiras produções desde marketing, layouts, aos detalhes que dificilmente vão passar despercebidos pelos visitantes. Assuntos e temas os mais variados possíveis, como é a vida. Uns mais outros menos interessantes, de acordo com o interesse pessoal de quem lê. Uns mais movimentados do que os outros, uns até abandonados pelos seus criadores. 
Faixa etária dos bloggeiros? Ai tem uma novidade diferente dos diários de papel. Porque tem desde crianças com seus 8 anos, até os adultos com 50 e poucos. (A idade maior que eu achei foi de uma mulher com 53 anos). Falo diferencial, porque não víamos adultos com 30, 40, 50 anos com diários de papel. A Internet abriu essa porta, sem haver uma certa discriminação (ou gozação) dos outros dizendo que isso "era coisa de gente jovem", deixando que os adultos também continuem expondo fatos da vida, apesar da idade.
Uma coisa posso dizer, tenho me divertido e emocionado bisbilhotando os bloggs por ai.
E tem gente que ainda garante que o mundo virtual é frio, e as pessoas não conseguem se expressar só pela escrita.

(*) Ruy Fernando Barbosa e psicólogo e jornalista. Artigo Escrever é terapêutico, publicação da Revista Viver, Ano 06, Nº 66.

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