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"Pacientes a distância" 
Por: Ligia Molina - Revista Viver © - 11/00  
 

A terapia on-line já é uma realidade, mas só é oficialmente admitida como técnica experimental e ainda recebe restrições de alguns profissionais

 

O recurso da Internet trouxe uma série de avanços para as mais diversas profissões. Com a psicoterapia não foi diferente. Profissionais da área, adeptos da rede mundial de computadores, utilizam atualmente a terapia on-line como alternativa de trabalho. Um fato que certamente chegou para abalar as tradicionais formas de tratamento.
No Brasil, o assunto vem dando muito o que falar desde 1997, quando a pratica passou a ser adotada por aqui. Por ser muito recente, o Conselho Regional de Psicologia (CRP) alega não ter havido tempo ainda para se comprovar a eficácia da terapia on-line. Enquanto isso, para o Conselho, o principal problema é a atitude de alguns profissionais que cobram pelo tratamento. Segundo o diretor do CRP de São Paulo, Alexandre Nicolau Luccas, um trabalho considerado de pesquisa não pode ser cobrado, justamente porque ainda está em fase experimental e por isso não há como comprovar sua eficiência.
Mas, entre aqueles que vêm praticando esse tipo de tratamento, há quem apresente suas justificativas e desafie a determinação do Conselho... (Edição)...
Por outro lado, a questão que gera mais polêmica vem dos profissionais que defendem a essência da psicoterapia. A essência, nesse caso, seria o atendimento cara a cara com o paciente. No contato via Internet a possibilidade mais próxima disso é o uso de câmeras ligadas aos computadores, o que não é suficiente. "O corpo faz parte da sessão. É preciso analisar as reações dos pacientes, o que é impossível apenas com uma câmera de vídeo", diz a professora de educação da USP Lenny Magalhães Mrech, psicanalista lacaniana.

 

Sem envolvimento - O presidente da Associação Brasileira de Psicanálise, Wilson Amendoeira, concorda com Lenny e acrescenta que a análise requer um ambiente preservado, que facilite a compreensão que o analista e o paciente compartilham. Para Amendoeira, o tratamento feito pela Internet não atende a essa necessidade por diminuir o envolvimento emocional entre analista e analisado, reduzindo as possibilidades de desenvolvimento do tratamento.
Quem já abraçou essa seara obviamente discorda. Márcia Homem de Mello, psicóloga com especialização em psicodrama, atende pela rede desde 1999, quando se mudou para Recife (PE). Tudo teve início a partir de uma sala de bate-papos. Seu site foi criado a partir da cobrança dos participantes do chat, que queriam um atendimento personalizado. Atualmente, Márcia, além dos clientes do seu consultório, atende um paciente pelo recurso on-line há mais de um ano. A seu ver, a única diferença entre o atendimento convencional e por computador é ter de basear s análise do conteúdo que vem do cliente pela escrita on-line. "O profissional sério e responsável tem de ter critérios para atender on-line da mesma forma que tem em um consultório normal", ela defende.
Entre outras vantagens defendidas pelos profissionais adeptos da Internet, está o alcance que a rede proporciona. Segundo Márcia, um deficiente com problemas de locomoção, fóbicos, mães com filhos pequenos, tímidos e desinformados podem utilizar os seus serviços. Em relação ao atendimento pessoal com paciente, ela questiona: "E um psicólogo com problemas visuais, como faz para analisar seus pacientes? Tem de se adaptar. Nós que atendemos pela rede também".
Ela não nega que ainda há muito que ser aprimorado pelos profissionais que prestam esse tipo de serviço, pois, antes de qualquer coisa, é necessário possuir conhecimentos básicos de informática e noções de segurança mínima na rede. Justamente a segurança é apontada pelos profissionais críticos ao novo recurso terapêutico como calcanhar de Aquiles da terapia pela Internet. Lenny Magalhães aconselha aos interessados em se tratar pela rede a não se expor logo de cara. "Sempre existe a possibilidade de informação vazar. E os dados pessoais de um paciente são de extrema importância e sigilo. O acesso de um hacker pode comprometer todo o tratamento."
Os dados enviados por e-mail, obviamente, são de caráter pessoal. ...(Edição)...

 

Sinceridade absoluta - Para que tudo dê certo, a regra básica é existir a mais absoluta sinceridade no que está sendo escrito. Mas, na opinião da psicóloga Vera Cecília Motta, mentir é normal tanto para o cliente atendido pela rede quanto para o que vai ao consultório. "Cabe ao profissional descobrir isso. A psicoterapia é assim mesmo, cheia de percalços. E existem aqueles que acessam o site ou vão ao terapeuta só por curiosidade."
Ao ser questionada, a curiosidade foi um dos motivos apontados pela estudante de marketing Regiany Guaratti que a levaria a acessar um site de psicoterapia. Regiany freqüentou sessões de psicoterapia por dois anos e meio, no estilo tradicional. Mas não descarta a validade de um serviço on-line. "Existem pessoas que são muito sozinhas e quando estão mal precisam de ajuda. É benéfico também para quem não pode pagar uma consulta. A proposta desses profissionais é bem interessante." Além disso, ela acredita que a rede possibilita àqueles que ainda têm preconceito em conhecer um trabalho terapêutico pessoalmente a obtenção de informações necessárias pela rede.
A psicóloga Vera Lúcia Motta também acha que os profissionais que trabalham pala Internet merecem seus méritos: "São desbravadores, estão abrindo um caminho. E utilizar a web como ferramenta de trabalho exige uma boa percepção da linguagem escrita."Ela só dá um conselho para quem atende somente pela rede - o profissional deve tomar cuidado para não encobrir seus próprios pontos fracos. "O profissional deve eliminar suas barreiras de alguma forma, principalmente os que são tímidos. Eles devem enfrentar o desafio de atender um paciente pessoalmente."
Enquanto a polêmica entre esse tipo de tratamento permanece, o Conselho Regional de Psicologia dá algumas dicas para quem está decidido a iniciar um tratamento via on-line. Alexandre Luccas aconselha a quem se sentir lesado ou enganado a procurar o Conselho de sua cidade. "Essa é a única forma de controlarmos as atitudes de algumas pessoas que nem profissionais são e estão dando consultas pela rede."
É importante ficar atento a isso. Ao acessar um site que ofereça atendimento psicoterapêutico on-line, procure pelo menos informar-se sobre a formação do profissional que está atendendo do outro lado. O Conselho só regularizou os sites voltados à orientação, como os artigos de revista e pesquisa - trabalhos que não exigem nenhum tipo de cobrança. 

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