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"Ciberterapia é polemica entre psicólogos"
Por: BRUNO LOPES  Especial para o JB Online  
 
Transferências bancárias, investimento no mercado de ações e compra de pizzas ou carros. Quase tudo já pode ser feito pela Internet. O mercado invadiu a rede e essas atividades já podem ser feitas tranqüilamente pelo computador. Mas, em algumas áreas a chegada de novas tecnologias ainda é vista com receios. É o caso da psicoterapia online. 
Consultórios virtuais, que oferecem seus serviços por ferramentas como o email e o ICQ, começam a surgir na net e provocam polêmica entre os profissionais especializados. O Conselho Federal de Psicologia (CFP) ainda não tem confiança nesse tipo de atendimento e autoriza a terapia online apenas em caráter experimental. A atividade deve estar vinculada a projetos de pesquisa universitários e não pode ser cobrada. 
Um dos mais conhecidos consultórios eletrônicos funciona em Recife (www.homemdemello.com.br/psicologia/). No site, a psicoterapeuta com formação em psicodrama Márcia Homem de Mello explica como funciona seu atendimento e deixa email e telefone para contato. 
A principal defesa dos que apóiam o uso da Internet para terapia é a possibilidade de atrair pessoas com dificuldade de buscar ajuda ao vivo. "A psicoterapia online facilita o atendimento de brasileiros residentes no exterior, deficientes físicos com problemas de locomoção e mães que não têm creches para deixar seus filhos", explica Márcia. "E auxilia, principalmente, pessoas de cidades pequenas, onde o controle social e o preconceito com a psicoterapia inibem muitos a procurarem uma ajuda médica". 
Marcus Vinícus Oliveira e Silva, conselheiro do CFP e responsável pelo website da entidade, afirma que o Conselho não é contra o desenvolvimento tecnológico, mas não considera prudente uma corrida para o atendimento online. "Não há dúvida de que é possível se comunicar e fazer comércio pela Web, mas a psicoterapia é um tipo de relacionamento extremamente sofisticado". 
Oliveira considera que as ferramentas atualmente disponíveis para terapeutas virtuais se resumem praticamente ao email e ao ICQ, o que dificulta a apreensão, por parte do profissional, de simulações que podem ser percebidas em conversas pessoais. 
Outro problema da Web é a dificuldade em fiscalizar a idade do paciente, já que de acordo com a lei apenas maiores de 18 anos podem fazer psicoterapia. "Devemos ser cautelosos, considerando que as pessoas que procuram uma psicoterapia normalmente estão em uma situação de fragilidade", afirma o conselheiro. 
Atualmente, o atendimento é permitido apenas em caráter experimental, sem que o terapeuta cobre pela consulta. Thais Sá Pereira e Oliveira, que tem um consultório no Rio de Janeiro e um website em http://www.psicosite.com.br/psic/thais.htm, segue essa orientação. Há pouco mais de um ano atende dois pacientes pela Internet e afirma ter resultados próximos aos que obtêm em seu consultório. 
Thais já se considera capaz de atender profissionalmente e cobrar pelas consultas, mas espera que o CFP mude sua resolução. Márcia Homem de Mello, no entanto, vai além e já cobra pelas consultas que faz pela Web. "Não estou pesquisando, mas fazendo terapia." 
O CFP pode mudar sua posição a partir do segundo semestre de 2001, quando o II Seminário de Psicologia e Informática debaterá o assunto. Até lá, Marcus Vinícius de Oliveira esclarece que serviços de aconselhamento, similar aos feitos em revistas e programas de rádio e TV, onde o terapeuta responde a perguntas específicas, estão liberados. No entanto, ele ainda minimiza a importância atual da Internet em tratamentos psicoterapêuticos, já que 120 milhões de brasileiros não têm acesso à rede. 


O divã vai ao tribunal

A discussão sobre a terapia online, que divide psicólogos e terapeutas, esquentou tanto que em alguns casos chegou aos tribunais. Atualmente, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) está processando a psicoterapeuta Márcia Homem de Mello por exercício ilegal da profissão. A profissional atende pacientes pela Internet. 
Segundo Marcus Vinícius de Oliveira, membro do CFP, até 1998 a entidade tinha uma posição ‘tolerante’ com a prática da psicoterapia na Rede. Isso ocorria porque era uma prática muito restrita no Brasil, e mesmo em 1999, muitos psicólogos não haviam tido um contato maior com a tecnologia. 
Só outubro de 1998 foi realizado o 1° Seminário Nacional de Psicologia e Informática, que abordou diversos aspectos da Internet e da informática, assim como suas aplicações para os psicólogos. 
A exposição dos defensores do atendimento pela Internet, considerada inconsistente por alguns psicólogos, não convenceu aqueles presentes ao seminário. "Não há dúvida de que é possível se comunicar e fazer comércio pela Internet. Mas a psicoterapia é um tipo de relacionamento complexo e esses autores não apontaram os mecanismos para contornar as limitações da rede", afirma Marcus Vinícius. 
Após o seminário, entretanto, o CFP passou a aceitar o atendimento online apenas em caráter experimental, sem a cobrança de honorários e com os devidos avisos ao paciente. O Conselho tomou a decisão tendo como base uma resolução de 1997, que institui a necessidade de pesquisas antes de novas tecnologias serem incorporadas à prática profissional. 
A partir de então, o Conselho enviou cartas aos profissionais que atendem pela Internet. Alguns abandonaram a prática e outros suspenderam a cobrança de honorários, fazendo o atendimento em caráter experimental. No entanto, há quem continue a atender pela Internet em caráter profissional, como Márcia Homem de Mello. 
Em março deste ano, as divergências se tornaram mais acentuadas, quando Márcia Homem de Mello cancelou sua inscrição do Conselho de Psicologia. "Ela queria fugir da legislação do conselho", afirma Marcus Vinícus de Oliveira. 
Dois meses depois, a terapeuta ajudou a fundar a Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde Mental Online (Abrapsmol), da qual é presidente. Favorável ao atendimento online, a entidade conta com 16 membros que discutem formas de se regular esse tipo de prática. 
O CFP entrou na justiça contra a terapeuta alegando que ela continuou a atender pacientes mesmo depois de ter cancelado o registro no conselho. Em novembro de 1999, Márcia Homem de Mello fez uma nova inscrição no Conselho, mas o processo continua.

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