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Escolha: Desistir é uma opção?
Maio de 2020

Márcia Homem de Mello©

Há uma dificuldade em identificar quando é benéfico desistir, a tendência é analisar negativamente, sem ponderar os motivos.

Os créditos vão ao fracasso, daí preferir permanecer na situação, mesmo que o preço seja dor, por vezes maior do que seria àquela na conta da desistência.

Motivos? Há um dicionário completo de desculpas ou justificativas. De fato, pouquíssimas querem rever ou reformular a situação. Conscientemente as variantes são apresentadas como medo, inutilidade, incompetência, perfeccionismo, resistência, perda.

Mudar sempre assusta, o desconhecido é uma fonte de congelamento, de indecisão.

Adiar, é uma escolha de impor um limite a espera, lhe posiciona na expectativa, pode não ser saudável e empurrar para o futuro uma decisão difícil. Ainda assim, estabelecer uma data, é melhor do que não haver prazo. Os ciclos da vida não param, enquanto decisões são adiadas. Esses momentos, ao passarem, podem limitar ainda mais a oferta de possibilidades.

Ressignifcar, mudar a estratégia, desapegar de um sonho ou projeto, abrir mão da rigidez ou do perfeccionismo, são provavelmente mais saudáveis. Isso implica em fazer uma análise pessoal, do que causa menor dano emocional, económico e/ou familiar.

Algumas decisões tem coparticipação, quando envolvem um sócio, um membro do casal que não quer ter filho, um familiar que decide adotar um animal de estimação, enfim. Nessas situações, a possibilidade de conversar para decidir, pode aliviar o peso da escolha individual. Ou optar por conversar com amigos para rever alternativas, consultar um profissional necessário para a dificuldade que se apresenta. 

Ninguém sabe o peso emocional que cada ser carrega, daí ser complicado julgar ou cobrar. Desse mesmo ponto de vista, deve ser a decisão. Só quem está na situação tem o conhecimento do contexto sentimental e suas repercussões. Quem desiste pode optar apenas em não manter a dor, a angústia ou ansiedade.

Ter a coragem de enxergar o sofrimento e recusá-lo, é preferível

ao invés de manter-se nele.

Por outras vezes, a renúncia está em aceitar a opção do outro. No exemplo do casal que um deles não quer ter filhos, após ser comunicada, a outra parte escolhe manter-se na relação ou finalizá-la, já que tem um desejo maior de exercer papel de pai ou mãe. Nunca é fácil assumir essa escolha, requer uma boa maturidade emocional e um autoconhecimento para não haver arrependimentos futuros, quando biologicamente uma das escolhas não teria como ser resgatada. Já àquele que optou em não ter filhos, deverá aceitar a decisão do outro, caso opte pelo final da relação.

Desistir tem ligação direta ao fator aceitação do limite.

Fazer escolhas sem considerar as consequências pessoais, fará com que responsabilize o outro por isso. Cobrará em algum momento, mesmo que silenciosamente. Optar em manter um casamento por causa dos filhos, fazer uma formação para satisfazer o sonho dos pais, manter uma empresa a beira da falência para não desfazer a sociedade, num futuro, os filhos, os pais, o(s) sócio(s), hão de receber a fatura.

Outra situação é culpabilizar os responsáveis por sua educação na infância, pelas decisões mal tomadas. A influência é inegável, mas manter o erro hoje, com objetivo de não se responsabilizar, é sinal de imaturidade emocional. O que lhe aconteceu na sua história não é mutável, mas como reage ao contexto dela, sim. O discurso de dever social e familiar cabe, se não lhe trás sofrimento. Abrir mão da fonte de ansiedade, é positivo, mesmo que inicialmente seja angustiante.

Isso posto, falemos sobre desistir de viver. Entra-se no campo da depressão, da doença, da falta da química boa, da necessidade de tratar aquilo que transforma a mente em apatia e faz o corpo querer ficar inerte. Essa situação exige uma interferência externa, um tratamento multi profissional para reabilitar corpo e mente.

Então, compreender os porquês do que tem ofertado a sua existência, trará o entendimento da renúncia, perante um cansaço físico e mental de já ter lutado demasiadas vezes. Que acaba por abalar a autoestima, muda a visão de mundo, a descrença ganha a mente e afeta qualquer olhar otimista. Um trabalho para mudar a razão da desistência de vida, para desapegar do que adoece.

Portanto, desistir sempre será uma opção.

Desistir não é exatamente finalizar, pode ser uma suspensão. Encerrar um ciclo, uma fase, para abrir espaço para um sonho, projeto, criar uma oportunidade. O que muitos vêem como fracasso, pode ser o começo de um ciclo de sucesso pessoal. Reiniciar, restaurar, mas diferente, com maturidade.

Recomeçar o que foi abandonado momentaneamente, porque não era possível lá, mas agora é. Há que se ter direito ao prazer, uma vida mais leve, simples, na qual os dias vão ter uma motivação diária.

A construção do amor próprio, da autoestima, na grande maioria das vezes chegam depois de desistências. A "morte" do passado, ressignifica o presente e reestabelece o olhar no futuro.

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