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"QUE TAL UMA SESSÃO ON LINE?"
Por DAGOMIR MARQUEZI (texto extraído da Revista Info Exame nº157 Abril/99) ©


Boa parte de nossa psique vagueia no cyberspace. Será que os terapeutas já se deram conta disso? NÃO CONSIGO CONVENCER minha terapeuta de que existe uma conspiração real contra minha pessoa, conspiração esta tão vasta que envolve a própria terapeuta sem que ela saiba. Mas consegui provar para ela que quem não tem um computador ligado à Internet virou uma ilha. Ela resistiu um tempo, mas depois descobriu que não há paciente ou colega que já não estejam navegando e meio obcecados por simuladores e downloads. Exemplos não faltam. Uma paciente dela, figura inteligente e bonita, bem informada, cheia de vida, arranjou um pretendente num chat e agora ele quer encontrá-la ao vivo. Ela adoraria, mas há um detalhe nessa love story: a mocinha declarou ao interessado que está "um pouco acima do peso". Na verdade, passou dos 120 quilos. E agora? Ninguém previu uma situação dessas. Hoje em dia boa parte de nossa psique vagueia nessa teia sem fim do cyberspace. O mundo mudou, nós mudamos, e nossos terapeutas precisam se preparar para esse novo mundo. Afinal, computadores e psicoterapias parecem ter sido feitos um para o outro. A revista Veja publicou (em 17 de março) uma reportagem sobre os "psicólogos online". Como sempre, os cooperativistas e conservadores reagiram com uma mistura conhecida: medo e inveja. Se agarram aos dogmas de Sigmund Freud, que não pode se defender, pois não tinha um Notebook no consultório e sua Viena dos anos 20 ainda não estava ligada à Internet. Como supor de que forma ele reagiria a algo que não conheceu? Na história dos computadores existiu inclusive uma doutora chamada "Eliza". Isso no final dos anos 60! Na verdade tratava-se de um "simulador de psicólogo", num programa desenvolvido no Massachusetts Institute of Technology pelo professor Joseph Weizenbaum. Eliza basicamente pedia ao "paciente" que falasse o que viesse à cabeça e devolvia algumas palavras citadas para que o "humano" refletisse a respeito. Aparentemente, Eliza seguia as regras do freudianismo ortodoxo. Se o usuário digitasse a palavra "pai", Eliza devolveria uma "fale-me mais sobre seu pai". Foi considerado um programa que provava na prática o quanto é fácil uma máquina fingir que é inteligente. De 1966 para cá, tudo mudou. Novos e fascinantes caminhos podem ser tentados com mais imaginação e menos preconceito. Qualquer profissional de qualquer área não tem outro caminho a não ser ver o computador como um instrumento, e não como um possível rival. Quanto antes se tocar disso, melhor. O que não pode acontecer é que todo o tratamento se processe exclusivamente online. O equilíbrio é uma simples questão de bom senso. Um exemplo? Alguns institutos de saúde de primeira linha (especialmente nos Estados Unidos) aceitam pacientes vindo, teoricamente, de qualquer parte do mundo. O paciente é operado e logo está de volta para a Austrália, por exemplo, com sensores que controlam seus sinais vitais e os transmitem via linha telefônica para os monitores no hospital em Houston, Zurique ou Toronto. Claro que auxiliados por médicos locais. Quanto à conspiração (na qual minha terapeuta ainda não acredita), tudo o que posso dizer, por enquanto, é que envolve o serviço secreto do Vaticano, a alta direção da Nike, enviados do planeta Ion, membros do governos mineiro e, é claro, Bill Gates.

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