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Chutando o Balde
Por: Marcella Brum - Site Bolsa de Mulher

Limites são como cercas que a nossa consciência e a sociedade impõem para as nossas atitudes. Entretanto, muitos seres tornam-se verdadeiros atletas quando a modalidade em questão é a de pular estas cercas ou mesmo se equilibrar em cima delas – por mais estreitas que sejam. Mas o que muita gente deveria entender é que todo cuidado é pouco na hora de realizar essa prática, pois um  bom senso fraturado pode deixar seqüelas para toda vida.

Certamente, ao longo de nossas vidas esbarramos com pessoas que fizeram daquela música do Cazuza “Mais uma dose? É claro que eu tô afim. A noite nunca tem fim. Porque a gente é assim?” fundo musical para chutação de balde. “Eu não sei fazer nada pouco. Não consigo tomar um chope, tem que ser dez. Não consigo comer um bombom, tem que ser a caixa toda. Para ser comedido prefiro nem começar a fazer”, confessa o empresário Pedro Barros, assumindo que tem consciência da sua falta de estribeiras. “Eu sei que tenho uma tendência a meter o pé na jaca. Embora saiba que pra tudo existe limite”, diz ele.

No entanto, o que sempre correu por aí é que limites foram feitos para serem ultrapassados. E parando para pensar nessa questão, chega-se a conclusão que eles realmente nada mais são do que as amarras dos nossos desejos. “Eu confesso que sou uma pessoa que erro a mão com dinheiro. Acho que o dinheiro foi feito para proporcionar felicidade, satisfazer meus desejos. Então perco a noção de limites e acabo me endividando toda. Queria ser mais controlada, mas a vida é uma só e eu trabalho pra poder curti-la da melhor maneira possível”, revela a dentista Simone Villas. Acontece que pessoas que têm em comum a falta de cabresto em suas atitudes não podem ser consideradas farinha do mesmo saco. “Cada ser humano é único. Portanto, é muito arriscado dizer que existe uma causa só para a falta de limites. Além de que, afirmar que o indivíduo não tem limites é uma apreciação ou um julgamento que pode ser errôneo a respeito da vida dele”, adverte o psicólogo Carlos Bein.

Só que quando a ultrapassagem não vai além de poucos metros, a infração pode se tornar até excitante. “Namorava um cara que não amarelava para nada e adorava isso. Qualquer pilha que botasse, por mais maluca que fosse, ele ia embora”, conta a agente de viagens Mônica Galvão. Mas, segundo a psicóloga Márcia Homem de Mello, o julgamento pela ultrapassagem é feito baseado nos limites estabelecidos pela sociedade. “Limites que para essa pessoa não estão bem delimitados. Ela tem essa noção distorcida”, afirma a psicóloga, ressaltando que muitas vezes os limites também podem ser aprendidos com erros e acertos.

E baseado no fato de que limite cada um tem o seu, fica difícil estipular qual é o lugar exato onde se vai subir a cerca. Nesse caso, Márcia Homem de Mello dá uma dica para quem ainda não se tocou de que está a légüas de distância do bom senso. “Geralmente, a pessoa começa a perceber quando ocorre um prejuízo, quando a situação começa a incomodar e aí dá aquele insight, do tipo ‘o que foi que eu fiz?’“, alerta ela. O psicólogo Carlos Bein também sugere mais perspicácia dos incautos. “Prestar mais atenção aos sinais verbais e não verbais das outras pessoas é importante. Porque a falta de limites costuma ter um efeito oposto ao desejado”, comenta Carlos.

Mas o que seria da humanidade se os limites, tidos como castradores de atitudes, não existissem? “Limites são chatos. Mas quando eles são estipulado por nós mesmos fica mais fácil de se conformar. Se cada um não tivesse o seu, imagina como seria o mundo? E para as pessoas que não os possuem estão aí as leis”, sentencia a advogada Marta Castro. Portanto, mesmo quem gosta de mandar o balde pra longe, a melhor coisa a fazer é pensar que o seu limite acaba quando começa o do próximo. Afinal, ninguém gosta de levar com o balde dos outros na cabeça. 

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