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Foi Mal...
Por: Marcella Brum - Site Bolsa de Mulher

Admitir que está errada não é agradável e muito menos fácil. Este simples ato implica em reflexão, análise e autocrítica – como podemos ver, a coisa é realmente bastante complexa. No entanto, de vez em quando, a ficha cai e notamos que de fato houve um vacilo de nossa parte. Fazer o quê? Pedir desculpas seria a resposta mais sensata e óbvia. Mas algumas criaturas ignoram o episódio e abstraem a significativa palavrinha ou uma similar da sua vida. O grande problema é que fazem isso também com a outra parte - talvez a mais interessada.

Brigas, desentendimentos, ofensas e xingamentos podem fazer parte de qualquer relacionamento – seja amoroso ou não. Passado o calor da discussão, cada um cata seus respectivos cacos e, se for de comum acordo, dão continuidade à relação. Para selar a paz nada mais adequado do que um pedido de desculpas, do responsável pelo barraco ou de ambos. Mas, mesmo parecendo tão elementar, algumas pessoas resistem como podem à idéia. “Meu marido tem esse péssimo hábito. Ele simplesmente finge que não foi nada, que a briga não existiu. Claro que isso quando o errado é ele. Se tiver sido eu, é capaz de ele ficar ofendido por meses, caso não receba um pedido formal de desculpas”, reclama a professora de inglês Teresa Castro Neves.

Mais do que o reconhecimento do erro, um pedido de desculpas pode significar uma pedra no assunto. Para a comissária de bordo Carolina Gurgel, é essa a função principal do gesto. “Quem está errado se retrata e quem foi magoado perdoa. A partir disso, podemos dar o caso por encerrado”, diz ela, reclamando das pessoas que dizem desculpar, mas não perdem uma oportunidade para recordar a pendenga. “A minha irmã é assim. A gente briga e se a culpa é minha, eu peço desculpas de coração aberto. Ela aceita, fica com aquele ar cheio de razão e, mais tarde, não perde uma oportunidade para jogar a história na cara”, descreve ela.

Embora o tal pedido seja esperado, aclamado e desejado por todos que se sintam magoados e ofendidos, pronunciar a palavra “desculpa” simplesmente não é indício nenhum de arrependimento. “Tem gente que pede desculpa pelo mesmo erro toda hora. Isso é insuportável: ou ela está pouco se importando ou não assimilou direito o ocorrido. Fala ‘desculpa’, ‘foi mal’ como diz ‘oi’”, indigna-se a economista Alice Maria Torres. A psicoterapeuta e psicodramatista Márcia Homem de Mello afirma que o ato de pedir desculpas sempre deve estar ligado a um significado verdadeiro para seu autor. “Se desculpar apenas para agradar a outra parte, não tem sentido. A desculpa deve ser sincera. Dessa forma, ela representa o reconhecimento de que algo desagradou ao outro, uma tentativa de reaproximação, já que a outra pessoa é importante, ou um desejo de reparar a mágoa causada, mesmo que não tenha sido intencional”, comenta a psicóloga.

Justamente por ter um significado tão abrangente é que a falta da aplicação desse vocábulo, na hora exata, acarreta complicações. Segundo Márcia Homem de Mello, dependendo do grau de importância que a outra parte dá ao problema, a ausência do pedido de desculpa pode gerar conflitos, sentimentos de mágoa ou raiva e desejos de vinganças. Por outro lado, saber desculpar também é muito importante. “Muitas vezes, a pessoa que errou é que tem a necessidade de se retratar. E isso implica em coragem e humildade para tomar essa atitude. Aceitar o pedido, então, é fundamental. Caso contrário, o ato de pedir desculpas do outro acaba sendo em vão”, conclui Márcia. No entanto, apesar de errar ser humano e pedir desculpas ser correto, banalizar o erro e arrematá-lo prontamente com a palavra desculpa ou uma similar não adianta muito. Palavras não são mágicas. 

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