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AMORES EM REDE
 

O FILÓSOFO AARON BEN-ZE'EV FALA SOBRE "LOVE ONLINE", ESTUDO PIONEIRO SOBRE OS RELACIONAMENTOS AMOROSOS NA INTERNET PUBLICADO NA INGLATERRA, E DEFENDE QUE A TENDÊNCIA DEVERÁ SE EXPANDIR EM UM FUTURO PRÓXIMO E IMPOR UMA NOVA ÉTICA À SOCIEDADE

Marcos Flamínio Peres - Editor-adjunto do Folha Mais! - Julho de 2004 
 

Mais do que um fenômeno circunscrito a teens ou a adultos solitários, os relacionamentos românticos via internet tendem a se expandir em um futuro próximo e devem, como conseqüência, provocar um relaxamento das normas sociais e morais tais como as entendemos hoje. No limite, elas devem impor um novo padrão de ética à sociedade "off-line", como defende o filósofo Aaron Ben-Ze'ev em seu livro "Love Online" (Cambridge University Press, 290 págs., 18,99 libras) -uma análise pioneira e exaustiva dos amores on-line publicada há pouco no Reino Unido.
Para ele, esse tipo de relação amorosa -que chama de "cybering"- irá modificar "inevitavelmente as formas sociais atuais", como o casamento, a coabitação, o sexo casual, o namoro e a traição.
O autor, que leciona no Centro de Pesquisas Interdisciplinares sobre Emoções da Universidade de Haifa (Israel), afirma que tais relacionamentos provocarão um incremento da imaginação e das capacidades intelectuais das pessoas envolvidas. Entretanto, assim como o consumo de drogas, o "cybering" também poderá provocar dependência no usuário, pois, ao "requerer mais e mais doses de imaginação", ele conduz ao aumento da distância entre a realidade "verdadeira" e o ciberespaço. O resultado disso, diz o autor na entrevista abaixo, concedida por e-mail, pode ser a alienação do indivíduo.
Mas Ben-Ze'ev pondera que "a natureza caótica e dinâmica do ciberespaço nunca irá substituir a natureza mais estável do "espaço real", pois não podemos viver em um caos completo". Nesse sentido, conclui, "aprender a integrar ciberespaço e "espaço real" no domínio romântico" será o grande desafio para a sociedade do século 21.

O sr. diz em seu livro que "a natureza interativa do ciberespaço exerce um profundo impacto sobre a estrutura social". Que tipo de impacto?
À medida que mais e mais pessoas mantêm relacionamentos on-line, eles se tornarão mais e mais prevalentes em um futuro próximo, quando a maior parte da população tiver se iniciado em atividades on-line mais cedo. Integrar os relacionamentos on-line e off-line, de modo que se possa aumentar tanto a satisfação com relacionamentos pessoais sérios quanto a excitação com relacionamentos mais transitórios, será um grande desafio para a sociedade e para os indivíduos.
A internet modificou dramaticamente o domínio do romântico e esse processo irá se acelerar no futuro. Tais alterações mudarão inevitavelmente as formas sociais atuais, como o casamento, a coabitação, as práticas românticas correntes relacionadas à sedução, sexo casual, namoros e a noção de exclusividade romântica. Podemos esperar um relaxamento das normas sociais e morais; esse processo não deveria ser considerado uma ameaça, pois não são as modificações on-line que põem em perigo os relacionamentos românticos, mas nossa falta de habilidade para nos adaptarmos a elas.
O relaxamento dessas normas ficará particularmente evidente em questões que dizem respeito à exclusividade romântica. Será difícil evitar inteiramente as alternativas disponíveis. A noção de "traição" será menos comum no que diz respeito aos casos românticos.
Assim como o aumento da flexibilidade romântica, valores como estabilidade e maior camaradagem serão mais importantes. A natureza caótica e dinâmica do ciberespaço nunca irá substituir a natureza mais estável do "espaço real", pois não podemos viver em um caos completo: do mesmo modo que outros tipos de significado, o significado emocional pressupõe algum tipo de base estável contra a qual ele é gerado. Apesar disso, o domínio romântico se tornará mais dinâmico, e será mais difícil perfazer as vantagens emocionais de uma estrutura romântica estável.

Como os relacionamentos on-line irão modificar o sentido da "traição" nas relações off-line?
"Ciberadultério" e "ciberinfidelidade" são mais fáceis de realizar e colocam o agente em uma posição menos vulnerável, já que as chances de ser "fisgado" ou sair ferido são consideravelmente reduzidas. Eles também abarcam um grau menor de traição na medida em que envolvem mais elementos imaginativos; o grau de negligência em relação aos interesses do parceiro também pode ser menor.
A prevalência de tais "affairs" on-line tornará as relações extraconjugais mais comuns e, por causa disso, mais aceitáveis. O relaxamento das normas morais será particularmente evidente em questões que dizem respeito à exclusividade romântica. Será difícil evitar inteiramente a vasta quantidade de alternativas atraentes disponíveis. A noção forte e muito negativa de "traição" se tornará menos comum em conexão com os "affairs" românticos; já outras noções, como "pular a cerca", serão mais comuns. 

 

A prevalência dos "affairs" on-line tornará as relações extraconjugais mais comuns e, por causa disso, mais aceitáveis
 

Do ponto de vista dos efeitos psicológicos, quais as diferenças entre o amor "convencional" e o "on-line"?
Em ambos os tipos de amor existem emoções reais, como desejo e ciúme. Mas existem muitas diferenças no que diz respeito à prevalência de vários aspectos em cada tipo de amor. No amor on-line, o papel da imaginação é muito maior. O ciberespaço revolucionou o papel da imaginação nos relacionamentos pessoais e elevou a imaginação de seu papel de ferramenta periférica -utilizada sobretudo por artistas e, no pior dos casos, por sonhadores e aqueles que, por assim dizer, não têm nada para fazer- a um meio central de relacionamento pessoal para muitas pessoas, que têm ocupações ou envolvimentos, mas preferem interagir on-line.
Embora algumas áreas do ciberespaço possam ser vistas como quartos de dormir eletrônicos, em outras áreas florescem tipos diferentes de relacionamento pessoal. Os seres humanos nunca tiveram acesso antes a um tipo ambivalente de relacionamento romântico, como é o caso do amor on-line.
Essa possibilidade apresenta um jogo inteiramente diferente no campo das interações pessoais. São as seguintes as áreas centrais do relacionamento romântico on-line: 1. distância e proximidade; 2. comunicação rica e direcionada; 3. anonimato e auto-revelação; 4. falsidade e sinceridade; 5. descontinuidade e descontinuidade; 6. investimento físico marginal e investimento mental considerável.
A internet encoraja outros tipos de troca em relacionamentos românticos. Assim, a proeminência da comunicação verbal em comunicações on-line provavelmente irá aumentar a importância das habilidades intelectuais nas interações românticas.
Romances on-line provavelmente dependerão mais da combinação de emoções e inteligência, incluindo aspectos verbais e intelectuais como senso de humor e boa articulação. O valor das características pessoais -em comparação com o valor da aparência externa- provavelmente aumentará. Embora essa mudança deva ter menos impacto à medida que a maior parte dos computadores for sendo equipada com "webcams", mesmo assim ela será evidente, já que os relacionamentos on-line continuarão a ser baseados em textos escritos.

Incremento da imaginação e habilidades intelectuais: "cybering", então, representa a quintessência da interação? Qual será o papel reservado à sedução?
"Cybering" é uma forma sedutora de interação. Ela é sedutora desde que, entre outras coisas, há apenas uma única imaginação e capacidades intelectuais. O anonimato e a grande disponibilidade para buscar parceiros contribui igualmente para a sedução na web.

O sr. se mostra bastante otimista no que diz respeito ao "cybering". O sr. não acredita que ele pode ser um tipo de relacionamento de mão única, em que o outro não passa de uma projeção de nós mesmos -em uma palavra, uma não-relação?
Realmente, vejo certas vantagens no fato de muitas pessoas manterem relacionamentos on-line, mas não creio que eles sejam capazes de substituir completamente aqueles off-line. Também vejo certos riscos em tais relações: um deles é que a imaginação pode exercer um papel grande demais.

Que tipo de pessoa ama "on-line"?
Em geral o ciberespaço atrai muitos tipos de pessoas, que, em seu conjunto, têm experiências emocionais positivas enquanto navegam. É provável que, no futuro, um número maior de pessoas passe por essa experiência. Hoje, diferentes tipos de pessoas obtêm diferentes graus de satisfação ao visitar o ciberespaço.

Como explicar as similaridades, como o sr. diz, entre "cybering" e ingestão de drogas?
"Cybering" é similar, em alguns poucos aspectos representativos, a tomar drogas. Ambos permitem acesso fácil ao prazer, que, com freqüência, é baseado em realidades virtuais. Em ambos os casos, os resultados estimulantes podem tornar as pessoas viciadas no método; as pessoas querem mais e mais, mas a satisfação é limitada e se torna cada vez mais custoso obtê-la. Um desejo de consumo por drogas e "cybering" não-realizado pode provocar grande sofrimento. Uma vez dados os primeiros passos nas relação on-line ou na ingestão de drogas, a situação pode com freqüência seguir seu próprio curso quase involuntariamente. As conversas on-line, assim como as drogas, estimulam artificialmente os centros do prazer no cérebro.
A estimulação artificial pode parecer fácil e barata; entretanto o preço pode ser alto em termos de nossa performance geral e, em particular, em termos do preço que aqueles próximos de nós, em nossas vidas off-line, poderiam ter que pagar. A excitação que muitas pessoas encontram em interações on-line rapidamente enfraquece e é substituída pelos aspectos mais tolos e rotineiros da vida cotidiana. Além do mais, assim como com as drogas, ficar excitado com relações on-line pode requerer mais e mais doses de imaginação -o que, em troca, pode aumentar a distância entre a realidade "verdadeira" e o ciberespaço.

Nesse sentido, os relacionamentos amorosos on-line podem conduzir à alienação do indivíduo?
Sim, eles podem levar à alienação, embora não necessariamente. Há vários riscos envolvidos nas relações on-line, mas também há certas vantagens. Um uso consciente e moderado da internet pode aumentar o peso das vantagens e diminuir o das desvantagens.

"Cybering" representa a consagração da individualidade nos tempos "hipermodernos" -na acepção do filósofo francês Gilles Lipovetsky- ou, ao contrário, representa uma nova e poderosa possibilidade de relacionamento?
Não acho que relações on-line vão se tornar a nova essência das experiências românticas modernas, mas elas constituem uma nova dimensão de tais experiências, que se tornarão cada vez mais populares. É bastante improvável que, no futuro, tanto os relacionamentos românticos on-line quanto off-line deixem de exercer um importante papel nas vidas das pessoas. Devido à natureza intrinsecamente incompleta dos relacionamentos on-line, relacionamentos satisfatórios off-line continuarão a ser considerados muito mais completos e desejáveis. Aprender a integrar ciberespaço e o "espaço real" no domínio romântico será o grande desafio para nossa sociedade.

Para o alemão George Simmel, um dos fundadores da sociologia e autor de uma influente "Filosofia do Amor", o amor é um dos exemplos mais representativos de "interação" -um conceito que, segundo ele, constituiria as sociedades enquanto tais. Nesse sentido, o amor "on-line" poderia ser considerado a quintessência da interação social?
Sob certo aspecto, os relacionamentos on-line reduzem a interação face a face, mas promovem outros tipos de interação. De modo diferente do que ocorre com a TV, os contatos on-line incrementam as relações sociais dentro da sociedade e, nesse sentido, apresentam, sem dúvida, valores sociais e psicológicos positivos. 

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A Escrita do Afeto e do Medo
Pesquisadora do universo dos Blogues discute as novas formas de sociabilidade criadas pelo ambiente virtual
Juliana Monachesi - free-lance para a Folha de SP

 

Há quem diga que blogues, chats e fóruns foram a infância da internet e que comunidades digitais como o Orkut seriam os primeiros indícios de sua maturidade. Se a nova sociabilidade que a rede está propiciando se desenvolve a passos largos, a produção acadêmica não acompanha seu ritmo, e raros são os estudos que refletem sobre ela. Denise Ferreira de Araújo
Schittine, autora de "Blog - Comunicação e Escrita Íntima na Internet", a ser lançado em breve pela editora Record, analisou o fenômeno dos diários pessoais disponibilizados em rede e empreendeu uma pesquisa de campo para saber quem são, para quem escrevem e que tipo de laços estabelecem os "blogueiros" -assunto sobre o qual discorreu em entrevista ao Mais!, por e-mail.

A sra. compara o fenômeno dos blogues (cujo surgimento no Brasil localiza especificamente no ano 2000) com o da disseminação das "webcams" com fins voyeuristas e dos "reality shows". Seriam esses sintomas do fim da esfera íntima construída com a ascensão da classe burguesa e consolidada com o individualismo, cuja expressão mais acabada se encontra no romance do século 19?
Não acredito que esses sejam exatamente sinto mas do fim da esfera íntima. Acho que a burguesia levou muito tempo para construir essa esfera e provavelmente não abriria mão dela tão facilmente. Foi um individualismo construído com excesso de zelo. E o computador (como aparelho-prolongamento do corpo humano) veio um pouco para reforçar esse individualismo. É um aparelho feito para exacerbar a concentração de quem escreve, nos limites físicos de seu corpo e dos dedos sob o teclado. Ao mesmo tempo, a atenção desse indivíduo se volta para o espaço que está sendo criado naquele quadradinho que é a tela. Enquanto faz isso, o usuário se distancia do ambiente e das relações que estão à sua volta para se desdobrar num outro mundo, num segundo mundo que está sendo construído ali no ambiente virtual. Isso reforça o individualismo? Provavelmente. Quando estamos no computador, abrimos mão do "mundo real" para nos fecharmos no nosso "mundinho". Por outro lado, os outros apontamentos da invasão da esfera íntima ("webcams", "reality shows" e, junto, os blogues) só funcionam na medida em que reforçam ou sacralizam essa esfera. Ou seja, é possível entrar num blogue, mas nunca conhecer o autor pessoalmente; observar alguém através de "webcams", mas nunca estabelecer diálogo; é possível torcer pelo personagem do "reality show", mas nunca conhecer realmente a pessoa que está por trás daquele personagem.
As possibilidades de desvendamento do outro só são permitidas com o consentimento desse outro. Por isso, a esfera íntima permanece de certa maneira intocada -porque, no caso do blogue, existe uma bruma, um véu ainda intransponível representado pela superfície opaca da tela.

Que transformações o advento do computador pessoal e da internet opera em gêneros literários como diários, memórias e escritos afins?
O computador pessoal e a internet -cada um a seu tempo e de formas diferentes- operam mudanças não só nas "escritas do eu" (como Paul de Man escolheu chamar a biografia, o diário, a memória) como em outros tipos de escrita. A primeira e fundamental mudança da escrita pelo computador é o tempo de criação e reflexão do texto. Então, vemos na atualidade escritores que dependem fundamentalmente do barulhinho da tela se "abrindo" e das torres perscrutando arquivos anteriores para começar a escrever. Para esse mesmo escritor, o branco da tela do Word é muito menos aterrador para começar a escrever do que a folha de um caderno. Há outros escritores (ou diaristas, como preferir chamar) para quem o processo criativo não acontece sem o volume e o peso das folhas de papel nas mãos, sem as possibilidades de rasura, sem o instante exato em que buscam a "mot juste" para uma frase com o lápis na boca.
Então, estruturalmente, o texto de escrita livre (como é o texto do blogue) muda fisicamente: a ortografia é substituída pela tipografia, a rasura pelo texto limpo, as folhas repletas de bricolagem pelas páginas lançadas no espaço virtual do computador. O texto que vai para a internet, então,caracteriza a escrita fluida, transitória, sujeita a mudanças.
Por outro lado, o blogue supõe e espera uma escrita direta, informativa, umtexto curto, menos elíptico. É possível que essas características e maisinúmeras possibilidades de reescritura e mudança do texto dêem a essa nova escrita íntima (pensada no espaço virtual) mais qualidade de estilo. Mas essa qualidade se ganha em detrimento de duas características ainda fundamentais do escrito íntimo: a memória e a personalização. Como nada que caracteriza o cerne do escrito íntimo está sendo perdido, cabe aos novos diaristas (os virtuais) descobrirem maneiras de desenvolver a memória e a personalidade em seus escritos.

A partir do momento em que a existência de um diário íntimo na internet deixa de constituir um paradoxo, também cai o mito da ausência do leitor. O blogue supõe um público e uma relação com ele. Como fica o estatuto da confiança e da cumplicidade nesse novo tipo de relação? Muitas das características do escrito íntimo não se perderam com a passagem para a internet, apenas se modificaram. O barato é exatamente estudar o caráter de adaptação dessas estruturas seculares da amizade, da cumplicidade, do contrato de cavalheiros ao ambiente virtual. O desejo de ser lido está mais forte do que nunca. Um dos méritos dessa nova escrita íntima é tentar apontar mais uma resposta para a impossível equação ocidental "eu x outro". No blogue essa equação aparece mais uma vez: quem escreve deseja saber a opinião desse outro, procura se identificar com ele.
A tensão continua porque na internet se relacionar com o outro não significa conhecê-lo exatamente como é, mas conhecê-lo de forma desigual: profundamente em algumas áreas, superficialmente em outras. E nunca ter certeza de que aquele que escreve é o mesmo ente que está por trás da tela. Então é preciso redimensionar as relações, porque elas acontecem com alguém que conhecemos "por escrito", não pessoalmente. É bom porque caiu por terra a tensão inicial imposta pela relação face a face, mas entra uma outra tensão, talvez muito mais forte: a de estabelecer confiança. Como estabelecer confiança com alguém que não conhecemos? Então surgem algumas saídas bastante originais e outras que são apenas releituras de tudo o que já foi feito. O contrato de cumplicidade e o acordo de cavalheiros são formas antigas de estabelecer confiança, formas que remontam às confrarias, aos clubes, às maçonarias. Não é sensacional que reapareçam no século 21? E que reapareçam porque são, ainda, as formas burguesas de estabelecer confiança? A cumplicidade com o outro, aquele que não conhecemos, que está separado por léguas de distância pela superfície opaca da tela, é feita por um fino e delicado fio: o da identificação. Se podemos ver no outro um pouco de nós mesmos, pronto! Lá está um igual ou parecido (um espelho), lá está alguém em que podemos confiar.

Quais as perdas e ganhos, tanto para os autores dos blogues quanto para seus leitores, do compartilhamento da intimidade na internet? É um jogo. Para quem escreve o diário é na internet que está a possibilidade de mostrar o texto, e não a cara. E, a partir daí, recolher as impressões e opiniões do público-leitor. Pode ser interessante escrever um texto menos alienante, um texto construído também com as impressões do outro. Mas pode também ser inteiramente desestimulante a opinião contrária de um leitor, que pode causar medo ou bloqueio. O leitor é uma madrasta em muitos casos pior do que um editor de jornal. Mas é assim que é, quem escreve diretamente para o público, sem nenhuma mediação limitadora de idéias ou conteúdo, precisa estar preparado para as críticas também. Ambos -o leitor e o autor- podem também ser reféns da artificialização das relações que acontecem apenas textualmente. Essas relações se criam com uma
certa expectativa e afastamento que depois é difícil de ser superado. E, aí, como passar das relações "literárias" para as relações face a face?

Não existe contradição quando, em um momento, a sra. fala no computador como um instrumento de isolamento e de "sociabilidade segura", por meio do qual é possível "formar uma rede de amigos virtuais que compensa o déficit de relações reais", e, mais adiante, defende que o blogue é um catalisador de comunidades, uma possibilidade de interação social criativa?
Acho que as duas informações não se subtraem, elas se complementam. É claro que o computador isola, em alguns casos, aquele que escreve do ambiente à sua volta. Mas aquele mesmo usuário que se perde concentrado num ambiente virtual está criando ali, naquele ambiente virtual, uma nova rede de amizades e relações. São amizades e relações feitas por meio do computador, com a distância invisível do tempo e do espaço, mas com pessoas que são reais. Não se pode tirar o mérito disso. Se essas relações são saudáveis ou não, ainda é uma questão. Mas a resposta dos meus entrevistados no trabalho de campo sobre a questão da mentira, da construção de um caráter diferente ou de um personagem para circular na internet foram todas muito parecidas: não vale a pena mentir. Por trás de uma personagem criada pelo autor, existe o próprio autor. E, se existe no leitor um interesse genuíno por essa personagem, automaticamente o autor se vê obrigado a dizer mais verdades sobre si mesmo. O contrato de cumplicidade entre leitor-autor passa muito por essa questão. A internet é um microcosmo. Uma sociedade que reproduz ou superproduz exatamente essa em que vivemos. Então, as relações, os desgastes, as aproximações e os afastamentos acontecem, sempre, mas num ambiente agora virtual. Criam-se novas formas de sociabilização construídas em cima da identificação pelos pequenos hábitos, esses biografemas virtuais.

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Mandar e receber e-mails faz bem à saúde
Por Caio Pedroso Ramos 25/04/2002
© http://www.terra.com.br/saude/dicas/2002/04/25/001.htm 

Psicólogos da Universidade do Texas afirmam que enviar e-mails emocionais é bom para a saúde. Segundo os pesquisadores, o internauta que expõe os sentimentos nas mensagens têm uma saúde melhor do que aqueles que não tocam no assunto.

Segundo o estudo, que foi feito com alunos da própria universidade, falar sobre si mesmo através das mensagens eletrônicas funciona como uma válvula de escape para o estresse. Através da pesquisa, os psicólogos perceberam que os alunos que enviavam e-mails contando sobre sentimentos tinham menos doenças do que os internautas mais fechados.

"O e-mail é uma forma rápida e conveniente de comunicação e até mesmo um método de proliferação de brincadeiras", afirma a coordenadora do projeto, Erin Brown. "Mas os resultados (da pesquisa) mostraram que, mesmo quando administrada através do e-mail, a escrita emocional ainda produz efeitos positivos para a saúde".
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Rev Época 13/05/2002
Saúde na rede
A Internet tornou-se um meio poderoso p propagar informações sobre saúde. um estudo do Instituto Harris Interactive mostra q 80% dos internautas adultos já buscaram dados sobre doenças e terapias na rede.
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Jornal da Globo 13/04/99
"Associação Americana de Medicina divulga pesquisa realizada por um psicólogo, que queria provar o que Freud dizia sobre o paciente se curar pela palavra realizando uma catarse. Separando em 2 grupos pacientes que escreviam textos falando de suas vidas enquanto faziam tratamento de reumatismo, artrites, ... e pacientes que também faziam tratamento e não escreviam os textos. O grupo que fazia os relatos em forma de textos, teve uma melhora significativa em relação ao grupo que não fazia os textos."

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