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"Tratamento psicológico no divã da Internet"
Por: Luiza Mendonça - Folha de Pernambuco © - 17/05/2000


Profissionais criam polêmica oferecendo consultas na Rede


Não há mais dúvidas de que a revolução tecnológica inaugurou uma nova era: a virtual. Avanços como a chegada da Internet estão obrigando a humanidade a repensar desde simples costumes até relações humanas. Mas há uma área em que as controvérsias tomam o lugar da unanimidade, quando se fala nos resultados conseguidos através da rede mundial dos computadores: a psicologia.
Causando muita polêmica, profissionais da área começaram a oferecer consultas e tratamentos on-line. A troca do divã pelo computador divide as opiniões dos psicólogos em duas correntes. Há os que defendem a prática como um novo meio de atender pacientes que não iriam a um consultório convencional, por causa de uma timidez excessiva ou pela simples falta de tempo. E há os que duvidam da eficiência de uma terapia sem o contato direto com o médico.
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) não reconhece a prática como uma atividade regulamentar, pela falta de comprovação científica de que o tratamento por Internet tenha efeitos terapêuticos equivalentes aos de um convencional. "A população não deve comprar o serviço, pela sua própria segurança", destaca Marcus de Azevedo Pinheiro, presidente do Conselho Regional de Psicologia-PE.
O CFP está elaborando uma resolução para regulamentar o atendimento psicológico via Internet. Pela proposta do documento, disponível no site www.psiconline.psc.br, os profissionais só podem exercer a atividade a título de pesquisa, em caráter experimental, informando este aspecto ao usuário. O que mais vem causando discussão, no entanto, é o parágrafo IV, que diz: “O psicólogo pesquisador não receba, a qualquer título, honorários da população pesquisada". "Isso é absurdo, pois a prática deixa de ser experimental a partir do momento que tenho resultado, que é atestado na prática", garante a psicóloga Márcia Homem de Mello, que oferece esse tipo de tratamento desde janeiro do ano passado, através do site homemdemello.com. br/psicologia, e responde a um processo judicial movido pelo Conselho Federal de Psicologia, por exercício ilegal da profissão.
Márcia conta que começou a usar o sistema porque entrava em chats e, quando se apresentava como psicóloga, imediatamente era tratada como profissional. "As pessoas pediam ajuda, contavam a vida. Não foram algumas vezes, mas sempre. Estudei o assunto e resolvi montar o serviço. A procura é muito maior do que eu esperava", comemora.

 

Estudantes aceitam com mais facilidade
Entre os jovens, que têm mais intimidade com o uso do computador e da Internet, existe uma predisposição maior em aceitar avanços como a terapia on line. Os estudantes de psicologia, que já vão entrar no mercado de trabalho com a existência deste serviço, estão ansiosos em relação ao tema. No seminário A Psicologia e o Mundo Virtual: Uma Interseção Possível?, realizado há duas semanas, pelos formandos da UFPE, a discussão causou muita polêmica."Acho que será preciso muitas pesquisas, para sabermos o efeito real de um tratamento virtual. Mas é uma questão de tempo", pondera Camila Soares, uma das organizadoras do evento. "A maioria dos 130 inscritos nas palestras era formada por estudantes, que são usuários comuns da Internet. Por isso, o perfil fica naturalmente mais favorável. Mas ainda sentimos falta de fundamentos", completa Luziane Santos, também organizadora do seminário.(L.M.)

 

Os prós e os contras da terapia on line
O primeiro contato entre paciente e psicólogo é feito via e-mail. A partir daí marca-se a hora das consultas e o tratamento é feito todo via Internet, através dos chats (salas virtuais de bate-papo). O paciente pode receber alta sem ao menos ver o terapeuta.
Esta é uma das questões que mais causam polêmica entre os profissionais da área. A maioria acha essencial a relação que se estabelece entre o paciente e o terapeuta para o sucesso do tratamento. "Todo o aparato teórico que temos foi elaborado numa época que não contemplava essas conquistas da tecnologia. Não podemos simplesmente transferir o que foi criado para ser usado num consultório para a tela de um computador", alerta a psicóloga Lindair Araújo.
Elementos como gestos, maneira de falar e até a preparação emocional de ir ao consultório também são tidos como componentes significativos numa terapia. O pai da psicanálise, Sigmund Freud, considerava a privacidade do consultório e o relaxamento corporal, conseguido no divã, instrumentos indispensáveis ao processo de uma análise.
"O setting terapêutico muda de teoria para teoria. A escrita é um novo critério de análise do paciente, que chega à mesma conclusão", defende a psicóloga Márcia Homem de Mello. Através deste processo, ela defende que é possível perceber a personalidade e até o inconsciente da pessoa, por meio da escrita. "O programa que uso, o ICQ, permite que eu veja o texto sendo escrito. Assim posso perceber quando o paciente muda de idéia ou comete atos falhos, por exemplo", garante. (L.M.)

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