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"Hora do "Eu te amo"
Por: Rosana Caiado - Site Bolsa de Mulher

Toda estréia dá um frio na espinha. O primeiro beijo, a primeira transa, o primeiro dia de trabalho, a primeira vez que se pega o carro sozinha. Na hora de falar “eu te amo” pela primeira vez para o namorado, nada mais natural do que sentir um certo nervosismo também. Pula um monte de grilos na nossa cabeça, como o medo de se expor e, principalmente, de não ser correspondida. No entanto, entre as mais corajosas até as mais tímidas, o coração tem suas razões para tapear a insegurança e passar seu recado – ou torpedo, carta de amor, serenata, cochicho ao pé do ouvido... E, se tudo der certo, esse é só o primeiro de uma série de declarações de amor açucaradas. 

As mulheres destemidas, seguras, enfim, mais evoluídas não vêem nenhum problema em se declarar ao ser amado. A estudante Laura Jeunon, 22 anos, tira esse assunto de letra. “Não tenho a menor vergonha! Logo no primeiro mês, já estava morrendo de vontade de falar ‘eu te amo’ para o meu namorado, mas preferi segurar um pouquinho, para depois dizer com toda a convicção. Por isso, fui deixando o amor crescer e, quanto mais eu amava em silêncio, maior a vontade de botar pra fora”, conta Laura, que acabou soltando as três palavrinhas no meio de uma conversa boba, numa hora em que o namorado não estava esperando. “Eu tinha certeza de que ia ser muito bem recebida e que a recíproca era verdadeira. E, também, depois que disse a primeira vez, e ele retribuiu com palavras e muita emoção, a gente não poupa mais ‘eu te amo’. Vivemos dizendo isso um pro outro!”, revela.

É assim mesmo: coçar e falar “eu te amo” é só começar – depois do primeiro, é um festival de declarações de amor pra lá e pra cá, de causar inveja aos tipos mais reprimidos. Mas mesmo no caso dos caladões, chega uma hora em que a paixão não se agüenta dentro do peito e acaba dando um jeito de driblar a timidez, como aconteceu com a jornalista Roberta L., de 26 anos. “Eu estava morrendo de vergonha e resolvi comprar um cartãozinho onde só tinha escrito isso. Era um envelope vermelho com um papelzinho branco dentro. Aí entreguei a ele e avisei: ‘vou te dar um negócio e você só pode abrir depois de contar até dez’. E saí do quarto”, lembra Roberta. A estratégia deu certo: o namorado abriu o envelope conforme o combinado, leu e, pelo visto, adorou a idéia e o conteúdo, já que saiu correndo atrás dela gritando “eu também, eu também”. “Inventei essa maluquice, porque não tinha como fazer de outra forma, não tinha coragem”, confessa Roberta.

Pois é, os tímidos também amam. E não são só as moças que ficam engasgadas antes de tocar no assunto “amor” pela primeira vez. Há rapazes que apelam para um bilhete, quando dá um nó na garganta. “Eu sempre adorei escrever e mandar cartões. Acho que o primeiro ‘eu te amo’ eu digo escrevendo. O bom é que vira uma prova concreta do amor”, diz o engenheiro Clóvis Duarte, que é contra ficar falando isso quinhentas vezes por dia. “Se você fala toda hora, não dá! Vira algo banal”, defende.

Nem falado, nem escrito – algumas meninas preferem ficar apenas no “eu também”, como a arquiteta Paula P. “Meu namorado reclamava, mas eu não conseguia falar ‘eu te amo’ com todas as letras. Não é que eu não gostasse dele, mas sentia dificuldade em verbalizar meus sentimentos”, diz Paula, revelando ainda que não foi habituada em casa a ouvir ou falar de amor com naturalidade. Até que um dia foi dormir na casa dele e jurou para si mesma que do outro dia não passava, iria falar a bendita frase para o namorado de qualquer jeito. “A primeira coisa que eu falei pra ele de manhã foi ‘eu te amo’. E enchi ele de beijinhos no pescoço, na bochecha, na boca sem nem escovar os dentes. Ou seja: prova de amor maior, impossível”, brinca.

Ainda não inventaram fita métrica que meça sentimentos, mas o designer Fernando Vasconcellos diz que a sua declaração de amor barra qualquer uma no quesito criatividade e também paixão arrebatadora. “A gente nunca tinha falado essas paradas ainda, mas tava na cara que estávamos amarradões um no outro. Então, pintei ‘te amo’ na calçada em frente à janela do quarto dela. No dia seguinte, liguei pra dar bom dia e falei pra ela dar uma olhada lá fora... Ela adorou e até deu uma choramingada”, conta Fernando.

Segundo a psicóloga e psicodramatista Márcia Homem de Melo, o momento de confessar que está apaixonado é bastante diferente entre homens e mulheres. “A mulher fala com mais facilidade, enquanto o homem, por questões culturais, tende a ser mais durão”, compara Márcia, lembrando ainda que, hoje em dia, as pessoas têm medo de se entregar a um relacionamento e depois cair do cavalo. Para a psicóloga, escrever é bem mais fácil do que falar de amor frente a frente com o namorado. “Na verdade, é uma defesa: a pessoa fala, mas não fala de verdade quando opta por um bilhete, carta ou recadinho. O que acontece é que essa geração tem dificuldade de se relacionar, uma vez que os pais trabalham fora e muita gente não experimentou expressar amor dentro de casa”, afirma a psicóloga. Por outro lado, tem gente por aí que pronuncia o santo nome “amor” em vão. “Chama qualquer um de ‘meu amor’ sem nem conhecer, apenas para ser simpático. Nesse caso, os gestos se tornam mais importantes, como dar carinho, atenção e ceder em favor do outro”, conclui Márcia. A gente tem um dicionário inteiro para se escolher a palavra certa: quando as escolhidas são três bem curtinhas com um significado imenso, o melhor é deixar o coração falar e caprichar na pontaria.

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