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"Relacionamentos"
Márcia Homem de Mello©
 

Relacionamentos de amizade, amorosos e até profissionais começam a chamar atenção pelo tipo de abordagem que começa a acontecer nos tempos atuais. 
Parece não haver mais critérios de escolha, de seleção. Muitos se deixam levar pelo lado pessoal, pela necessidade urgente de se ter “alguém” para preencher o “espaço vazio”.
Sites de relacionamentos, de encontros ou ainda, sites que tentam ajudar a compreensão dos casais, têm se proliferado cada vez mais na internet. Sem contar os contatos profissionais superficiais que se faz.
Ainda entre os mais vendidos, os livros de auto-ajuda se destacam com esses temas. Será a sede por respostas ou uma busca sem fim do ser humano? Será o tão chamado “vazio” que cada um busca preencher?
O quanto pessoas têm ficado cegas nessa busca, é uma pergunta que tenho me feito diariamente. Ouvindo uma frase de quem não achei autoria, é que me deu estalo para escrever esse texto, e dizia: “Quem tem sede demais não escolhe a água que bebe”.
É isso. Perdeu-se a própria referência e deixa-se levar pelo outro.
As relações estão doentes e nem nos demos conta. E estão doentes, porque as pessoas estão doentias. Sem querer generalizar, mas pensando numa maioria que tem se relacionado cada vez menos de forma saudável.
Um comportamento social ou pessoal que deveria ser natural, está ficando atrofiado e as pessoas se privam de conviver com outros indivíduos, não se expressão ou se comunicam. Está ficando confuso? É, está mesmo.
Quando digo atrofiado, é no sentido de fraco, de não haver aprofundamento, uma base que sustente. 
Os sites têm colaborado com a aproximação, a encontrar pessoas com as quais a comunicação estaria em débito, a novas amizades enfim, é muito válido. Mas o que as pessoas tem feito depois de se conhecerem virtual ou pessoalmente? É incrível a resistência para um encontro pessoalmente. Claro que com a devida segurança, mas nem assim. Mais incrível ainda, é a dificuldade para se aceitar um novo encontro depois de conhecer pessoalmente. Parece que o medo do “algo mais sério” esta virando a doença contagiosa do novo milênio.
Em contrapartida, temos cada vez mais pessoas expondo suas vidas em sites de relacionamentos, bloggs, fotologs ou videologs. Fica mais fácil falar pelo telefone, celular, chat, mensagens, do que olhando para alguém.
É um emaranhado de situações, que fica até complicado entender esse movimento do ser humano. 
Atentei-me para um termo que está sendo utilizado cada vez mais e amplamente divulgado, o Carpe Diem o qual significa "colha o dia" ou "aproveita o momento”. Será que explicaria esse momento imediatista que vivemos?
Essa rapidez de obter informações, de executar atividades, de não querer ter a sensação de “perder tempo” fazendo algo que poderia ser feito de outra forma mais ágil, seria fruto da tecnologia a qual vem evoluindo velozmente a nossa volta, contagiando os contatos e relacionamentos?
Não estou aqui falando de amor, de trabalho, de amizades especificamente. Estou sim falando de relacionar-se com o mundo que cada um tem a sua volta. De “perder” tempo para aprofundar o conhecimento, perceber detalhes, de ouvir além, de tomar um cuidado, um respeito maior.
Os seres estão mais estressados, menos pensativos, mais caseiros, menos sociáveis, lêem de forma rápida e dinâmica, menos motivados para leituras extensas. Gerando então indivíduos mais informados superficialmente, mais ágeis, com mais jogo de cintura, porém menos aprofundados, menos detalhistas, menos preocupados com limites, com fatores sociais e culturais, isolados cada vez mais em seus domicílios, não cumprimentando nem os vizinhos, nem os funcionários, indo menos a festas. 
As tarefas são inúmeras, o tempo escasso, ninguém lembra do lazer, de separar um tempo para o auto-conhecimento. Oras, se não conhece a si mesmo, como vai conhecer o outro? Se não tem tempo para se relacionar consigo mesmo, quem dirá com o próximo! Não sobra tempo para almoçar, jantar, conversar, brincar, ver televisão, ou seja, estar em família. 
Como podemos esperar que apareça o aprendizado do relacionamento se a base familiar está desestruturada, sem comunicação? São atividades e mais atividades e o lazer sumiu.
Quando foi a ultima vez que você participou de uma atividade em família?
Talvez esteja ai a sua resposta para esse vazio que VOCÊ vem sentindo ultimamente e que deseja preencher a toda hora, de qualquer maneira, evitando estar só, esperando que apareça o comprimido mágico ou ser milagroso que faça essa sensação sumir. Porque ficou careta se relacionar, “perder” tempo ouvindo ou vendo alguém. Porque é pagar mico estar com os pais ou avós, quem dirá ser visto com eles em público! Porque tem que estar com vários amigos ao mesmo tempo, e quando for online, quanto mais janelas de conversa aberta, melhor. E não importa se trocar mensagens, não é? Afinal, todo mundo faz a mesma coisa!
Pessoalmente para quê? Dá trabalho para se arrumar, pegar trânsito, ônibus, para ver alguém. Ainda mais se existe webcam facilitando a visualização!
Acho que fiquei careta demais para o mundo atual. Fiquei fora de moda, desatualizada e como dizem os jovens, a velha aqui não tá ligada! Acho muito pobre a forma dos relacionamentos atuais. Mas e daí? É só minha opinião pessoal mesmo, o que os outros têm com isso?

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