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"Técnicas da terapia on-line causam polêmica" 
Pelo chat, o profissional não consegue ouvir o paciente, o que pode prejudicar a consulta 
Por: Angela Trabbold

O cidadão que usa a Internet para fazer desde transações bancárias até sexuais, pode confiar nela para uma terapia mental? Até agora, há um certo consenso de que não se pode resolver todos os conflitos num bate-papo eletrônico. "O paciente pode até se sentir mais à vontade para falar sobre suas inseguranças e pecados longe dos olhos do terapeuta, mas na hora de uma crise falta um respaldo mais consistente que só a terapia convencional pode dar", afirma a psicóloga e escritora paulista Luiza Cristina Ricotta. 
Por prevenção, os terapeutas virtuais não atendem pacientes em crise, com depressão grave ou com tendência ao suicídio. Os críticos acreditam que o atendimento on-line só é válido no caso de orientação ou de suporte a grupos, como um fórum de discussão que permita a troca de experiência entre pessoas com o mesmo tipo de problema. Fora disso, o profissional estaria enganando seus clientes porque jamais poderia estabelecer um verdadeiro vínculo terapêutico. 
Polêmica - A questão central, que divide os terapeutas, refere-se à aplicação das técnicas terapêuticas em um meio completamente diferente do ambiente do consultório. "Na comunicação virtual, feita por chat ou e-mail, o terapeuta não pode ver nem ouvir o paciente, o que compromete a interpretação dos signos e, conseqüentemente, torna a técnica tradicional inadequada", diz o psicólogo e conselheiro no Conselho Federal de Psicologia, Marcos Vinícius de Oliveira e Silva. A psicóloga Luiza Cristina Ricotta tem a mesma opinião. "O texto, quando visto isoladamente, pode levar a interpretações distorcidas. Ao escrever, o paciente pode mostrar segurança, mas no íntimo está apavorado." 
Os adeptos da terapia on-line acham que todas essas limitações podem ser contornadas. Basta que o terapeuta esteja sintonizado com a linguagem da comunicação virtual. "É muito comum um paciente ter um ato falho, digitando palavras com grafia errada", explica a psicóloga Márcia Homem de Mello, de Recife, que preside a Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde Mental On-line e atende via Internet desde 1996. 
Márcia acredita, com base na experiência empírica, que é possível adequar a técnica tradicional ao meio virtual. "O psicodrama virtual é tão intenso quanto o real; os pacientes interpretam os papéis contando sua história por escrito", diz. Quanto à possibilidade do texto ter seu significado deturpado, ela lembra que esse risco não é exclusivo do atendimento virtual. 
"Além disso, a Internet oferece outros meios para o paciente transmitir seus sentimentos,como os recursos do chat, que permitem usar desenhos com expressões de tristeza, alegria ou raiva." Márcia acredita que os progressos nessa área são reais, "tanto que alguns dos meus pacientes já estão em processo de alta", conta. 
A psicanalista carioca Lazir de Carvalho dos Santos, outra adepta do atendimento on-line, vai além e afirma que a análise virtual dá mais resultados do que a convencional. Ela fez um estudo com 12 pacientes virtuais e chegou à conclusão que 70% tiveram melhora. 
Na sua avaliação, eles foram mais abertos e faltaram menos às sessões do que os pacientes atendidos em consultório. "Constatei que é possível detectar atos falhos, transferência e outros mecanismos inconscientes pela comunicação virtual." Por causa disso, Lazir agora leciona psicanálise virtual na Universidade de Brasília. Freudiana de carteirinha, Lazir acha que se as expressões do rosto fossem tão imprescindíveis, os analistas não colocariam os pacientes deitados no divã. 
 

Veja os prós e contras do divã virtual
Preços são menores, mas alguns especialistas dizem que a terapia on-line só aconselha 

O filão da terapia on-line é especialmente fértil para analistas e dramaticistas, categorias de profissionais que não estão sob o controle do conselho dos psicólogos e que, portanto, estão livres de qualquer sanção. 
Além da convicção, o que estimula esses profissionais a continuar oferecendo atendimento on-line é a demanda, que tende a crescer e a transpor qualquer proibição. Afinal, a comunicação virtual oferece vantagens incontestáveis. 
"A Internet facilita o acesso às consultas para quem precisa de terapia, mas não tem tempo ou condições físicas de estar frente a frente com um terapeuta", diz a psicóloga carioca Terezinha Lapa Tude de Souza, que pretende realizar pesquisas na área para poder oferecer atendimento on-line no futuro. 
Vantagens O acesso é garantido. Do Japão ou do Brasil, o paciente está sempre pluglado ao seu terapeuta. No caso de mudança ou viagem, não é necessário interromper a terapia. A Internet também permite que uma pessoa doente ou que more em um lugar distante tenha acesso ao atendimento psicoterapêutico. 
É mais barato. O preço da consulta fica em torno de 50% mais barato porque os custos, segundo os terapeutas, são menores, uma vez que não há gastos com aluguel de sala, secretária etc. 
O escudo do anonimato da Internet deixa o paciente mais à vontade para falar sobre os seus problemas. Os terapeutas on-line têm acesso a pessoas traumatizadas, como vítimas de abuso sexual, que têm vergonha de contar sua história. 
O paciente tem ajuda na hora em que precisa. Se não puder esperar pelo dia da consulta, o terapeuta fornece o seu telefone em casos de emergências. 
O atendimento psicológico pela Internet também permite a orientação gratuita sobre qualquer problema. O Brasil já conta com vários sites que oferecem este serviço. 
Desvantagens A conexão entre os computadores do paciente e do terapeuta pode ser derrubada, o que interromperia a terapia. O Brasil ainda não dispõe de um site que ofereça apoio 24h por dia. A praxe é igual: data e horário da consulta são agendados previamente. 
Não há garantia de sigilo absoluto como ocorre com qualquer pessoa que navegue na rede, mas os adeptos alegam que nem o tratamento convencional oferece isso. 
Muitos especialistas afirmam que a terapia on-line funciona apenas como orientação, mas não segura a barra de uma crise. 
Não há pesquisas conclusivas que provem sua eficácia. 
 

Terapia on-line cresce apesar de dúvidas 
Prática está liberada apenas em caráter experimental e os resultados são polêmicos 
  
As mudanças de comportamento provocadas pela Internet já chegaram ao divã. Depois do e-business, namoro e sexo virtual, a novidade que está se espalhando pela rede é a terapia on-line. Na Europa e nos Estados Unidos, milhares de pessoas estão trocando a psicoterapia convencional por uma sessão feita por chat, e-mail ou videoconferência. 
Nos EUA o atendimento on-line é uma prática comum há cinco anos e já existem cerca de 200 sites que oferecem acesso ao serviço de centenas de psicólogos e analistas. Eles são precursores em um tipo de atendimento que causa polêmica pelo fato de haver poucos estudos que comprovem sua eficácia. Mesmo assim, os terapeutas norte-americanos contam com um respaldo ético e legal das associações de classe, como a American Psychological Association. 
No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) decidiu proibir a prática enquanto não houver base científica para oferecer este serviço. O CFP adotou uma resolução que liberou a terapia on-line apenas em caráter experimental. 
Os psicólogos que fizerem pesquisas na área não poderão cobrar pelo trabalho e serão obrigados a alertar os pacientes sobre os riscos envolvidos na experiência. Apesar disso, muitos terapeutas se recusam a tirar do ar os sites que oferecem atendimento virtual, alegando que é possível estabelecer um vínculo terapêutico tão bom quanto se estivessem cara a cara com seus pacientes. 
  
Sites dão dicas de como escolher um terapeuta 
Internauta pode participar de grupos de apoio virtuais ou e aconselhamento 

 
Além dos terapeutas on-line, existem dezenas de sites que oferecem orientação para os mais variados problemas. Nesse caso, não há nenhum vínculo terapêutico. O Conselho Federal de Psicologia vê com bons olhos essa prática, desde que ninguém ultrapasse o limite que separa a orientação da terapia. Confira alguns site que abordam a terapia on-line, aconselhamento e grupos de apoio: 
Abrapsmol (Associação Brasileira de Profissionais de Saúde Mental Online) - (ht tp://www.abrapsmol.com.br) reúne profissionais que oferecem terapia virtual por chat, e-mail ou videoconferência. 
Instituto Kaplan (http://www.kaplan.org.br) - orientação na área de sexualidade por e-mail ou telefone, gratuitamente. 
...(Edição)... 
O Psicólogo (http://www.opsicologo.com.br) - Conversando com o Psicólogo, site do psicólogo Rubens Maciel, que oferece orientação pontual, além de artigos sobre ansiedade, sexualidade, estresse, drogas, depressão, obesidade, sonhos, relações entre pais e filhos, paquera, psicoterapia, e outros temas. 
Projeto PsicoNet (ht tp://www.psiconet.org.br) - site que reúne material informativo em psiquiatria e promove reuniões de grupos virtuais de auto-ajuda. Familiares de alcoolatras, psicóticos, esquizofrênicos etc podem trocar experiências via chat com um profissional especializado. 
NetPesquisa (http://www.ne tpesquisa.com) - site que se dedica à pesquisa e a divulgação de conhecimento relacionado à psicologia e à Internet. 
Metanoia (http://www.meta noia.org) - site norte-americano que se dedica a esclarecer as dúvidas mais comuns para quem tem intenção de fazer terapia on-line. (A.T.) 
 
Pesquisas podem legalizar a prática 
Entidades e psicólogos estão empenhados em mostrar que a terapia on-line tem futuro  


Polêmica à parte, a realidade é que não há pesquisas conclusivas sobre a eficácia da terapia on-line. O psicólogo Oliver Zancul Prado, integrante do grupo de Trabalho sobre Atendimento Mediado por Computador (ATMC) do Conselho Regional de Psicologia, de São Paulo, diz que vai demorar um pouco ainda para se ter uma posição final sobre o assunto. "Serão necessárias várias pesquisas até que se tenha uma visão clara dos limites e dos potenciais da terapia on-line", ressalta. 
Prado está iniciando pesquisas na área e em sua opinião, antes de qualquer coisa, esses estudos terão de desvendar a linguagem e o comportamento virtuais. 
A psicóloga Fabiana Maiorino, outra integrante do grupo ATMC, acredita que as pesquisas talvez poderão até gerar uma nova linha de psicoterapia, com um novo modelo de atendimento. 
O próprio Conselho Federal de Psicologia reconhece que é uma questão de tempo para que o atendimento on-line seja legalizado. "Quando houver pesquisas conclusivas sobre esse assunto, iremos reavaliar a resolução de proibir a prática no Brasil", afirma Silva. 
Realidade - "A Internet é o meio de comunicação que está em sintonia com o homem pós-moderno", resume a psicóloga Terezinha Lapa Tude de Souza. Ela lembra que a comunicação virtual pode nunca substituir o contato real, mas que tem um espaço próprio nas relações interpessoais. 
"Isso não há como negar", conclui. 
Oposição - Anna Verônica Mautner, psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, não é a favor da prática da terapia on-line feita por muitos profissionais da psicologia. "Não se pode chamar de terapia ou análises esse tipo de trabalho. Falta nisso o essencial que é o encontro, sem intermediários, entre paciente e analista", ressalta. 
Anna acredita que as duas partes devem desenvolver uma relação de paciente e profissional para que o tratamento seja bem feito. "É desse encontro e da relação que se cria entre os envolvidos que pode ocorrer o tratamento e conseqüentemente a mudança. Quem faz esse tipo de trabalho não tem vínculo com as instituições profissionais, aliás, o que é condenado pelo CFP." (A.T.) 

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