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Profissionais se Especializando em Atendimento Online

Por: Márcia Homem de Mello© - Publicação ABRAPSMOL 08/2000

 

Quase 2 anos** após ter começado a me envolver com o atendimento online, posso dizer que até certo ponto, estou satisfeita com o desenvolvimento que o assunto tomou.

E sem modéstias, pode-se dizer que ele acabou provocando e tirando muitos profissionais do estado de acomodação e da falsa segurança que se encontravam.

Rever conceitos, avaliar posturas, fazer questionamentos internos e externos, exigir posicionamentos, fazem parte do progresso, e podemos ter essa liberdade que a democracia do país nos permite.

A Proposta de Atendimento online, ou TOL (Terapia On Line para uns), ultrapassou o limite dela mesma, chegando a bater na porta de todos os profissionais de saúde mental e dos usuários da grande Rede Mundial de Computadores.

Certa vez, cheguei a comentar que agora as informações chegariam mais rápido, e que ficaria difícil não mais falar sobre os temas, as guerras, a situação econômica, os acidentes ecológicos, os roubos e obras superfaturadas. Porque basta enviar um assunto por e-mail para um colega, que logo vira uma bola de neve, enviada para outros colegas, que enviam para outros colegas,... Os portais da rede atualizam suas informações na hora que elas acontecem, presidentes estão constantemente dando informações e satisfação de atitudes tomadas em seus governos... A Internet é mais rápida do que a informação televisiva.

Ficou difícil não falar sobre o atendimento online, é difícil esconder os profissionais e a TOL dos usuários da Rede Mundial. Ficou mais difícil ainda, para os que não se informam, tomar decisões e falar sobre o assunto, porque logo em seguida, surgem opiniões, comentários, protestos, dos que são profissionais e sabem de suas capacidades. Ameaças e tentativas de denegrir a imagem desses profissionais, tem sido tiros na água.

Com a criação da ABRAPSMOL, ocorreu uma união de profissionais de saúde mental, de várias especialidades, que vêm discutindo, estudando, se atualizando, questionando, se orientando. E como qualquer outra forma de terapia, ela se aperfeiçoa diariamente, inclusive com o progresso da tecnologia. 

Aqui vale ressaltar, que todos os profissionais formados, tem direitos e responsabilidades para com o cliente e consigo mesmo. A esse profissional cabe também, as conseqüências de um ato incorreto, ou de um atendimento mal prestado. Pois se é formado, subentendesse que o mesmo, foi capacitado para fazer sua atividade. O cliente tem direito de escolher e querer o melhor. Tem direito também, de reclamar quando não receber o que lhe foi prometido.

Os profissionais de saúde mental, trabalham com a saúde da mente, e precisam ter um imenso profissionalismo e muita seriedade com o próximo. Pois existem falhas que não podem ser remendadas.

E é por essa seriedade, que a ABRAPSMOL tem lutado, porque acima de qualquer discussão, está o bem estar, o direito, e respeito do próximo. É como diz aquele dito popular: " Não desejar ao outro, aquilo que não desejaria a si mesmo". Por isso, essa equipe multidisciplinar, tem se empenhado ao máximo. E a ABRAPSMOL também tem se fixado, como o órgão online, para receber denúncias dos maus profissionais online e de atitudes anti-éticas e ilegais. Essa Associação, tem em seu quadro de associados, somente profissionais formados e regularizados com suas profissões.

Nós, profissionais do atendimento online, descobrimos que era hora de pregar o que tanto é dito por nós mesmos. A dúvida, é o início da busca do que melhor podemos nos dar durante a vida.

O Roberto Shinyashiki, em um de seus textos sobre Felicidade diz que quando se descobre a necessidade de mudança: " É chegada a hora de fazer uma revolução. Uma revolução muito mais profunda do que o tradicional banho de loja, corte de cabelo ou final de semana na praia. Os cuidados pessoais são importantes, mas é preciso avançar além disso. Não adianta só aparar o mato, pois ele crescerá de novo. O importante é arrancar as raízes da neurose e não apenas maquiá-la para que fique mais aceitável."

Resolvemos então, abraçar a causa, e lutar por ela. Não nos preocupando em estar agradando aos tradicionalistas, porque nossa preocupação é o ser humano, não cargos, títulos, atitudes políticas, ou falsos reconhecimentos. Nosso compromisso é com o próximo, e com aquilo que acreditamos. Afinal, não faz parte do que os profissionais de saúde mental tanto falam? Devemos dar valor maior aquilo que acreditamos, antes de valorizar a opinião do outro. Sem a onipotência de estar sendo um Deus Todo Poderoso.

Para continuar, cito mais uma vez Shinyashiki: " Muitos desperdiçam suas vidas colecionando bobagens. Grandes coleções de cursos inacabados, amores frustrados, projetos engavetados, centenas de livros não lidos, relações sem afeto. Não percebem que essas quinquilharias ocupam o espaço reservado para as novas criações. Por exemplo, quando sofremos uma desilusão amorosa, essa frustração ocupa o espaço de um novo amor. Por isso, os japoneses dizem: "Para você beber vinho em uma taça, precisa antes jogar fora o chá". Limpe sua taça!"

Será que deveríamos nós, engavetar um projeto, engavetar a disponibilidade do atendimento online, para os inúmeros usuários da Rede? A favor de que ou de quem engavetaríamos nosso projeto? Nós resolvemos limpar nossas taças, nossas janelas, para poder olhar o outro. 

Volto ao Shinyashiki:" Por isso, deixe o passado para trás, seja ele feito de vitórias ou derrotas. No caso das derrotas, você precisa analisar seus erros, fazer um novo projeto é tentar mudar os rumos. Quanto às vitórias, elas existem para serem comemoradas, mas jamais devem estimular a acomodação, do tipo "Já ganhei mesmo, agora posso descansar". O verdadeiro vencedor nunca desiste. Para fazer novas conquistas, é preciso deixar para trás as velhas, que já não são mais úteis."

Não nos acomodamos com o diploma conseguido na universidade, e com a possibilidade de abrir um consultório, e esperar que nossos clientes cheguem até nós. Estamos indo até eles, onde eles precisam que estejamos.

Será que adianta fechar os olhos para não enxergar o que está na nossa frente? Não existe uma nova ciência sendo criada, apenas uma nova forma de usar a ciência. Está na hora dos profissionais avaliarem os por quês de tanto pré-conceito. A sociedade precisa ser defendida dos maus profissionais, mas quem são realmente os maus profissionais? Aqueles que querem dar mais uma opção de trabalho e de terapia, ou os que querem impedir a sociedade de ter esse acesso por pura falta de argumentação, tomando atitudes extremamente antiéticas?

E finalizando com Shinyashiki, num texto sobre entender as pessoas, ele diz: "O maior desafio da COMUNICAÇÃO* hoje é a Internet.

Não estou falando da sua velocidade, eficiência e nem do impressionante aparato tecnológico. Refiro-me à COMUNICAÇÃO* entre as almas que estão por trás de cada computador. Na maioria das vezes nós nos esquecemos disso. Que do outro lado há uma pessoa com seus sentimentos, sonhos, medos e inseguranças. Se isso acontece até mesmo num chat informal, imaginem numa tentativa de negócios.

Proponho a todos fazermos uma passeata virtual.

"Abaixo a ignorância das almas". "

Se as pessoas com seus medos, sonhos, inseguranças, estão presentes no consultório offline, por que achar que elas não estariam presentes também no ambiente online? E se elas estão nesse novo ambiente, não faz parte do nosso aprendizado profissional avaliar o meio em que o individuo está inserido? Se elas conseguem se comunicar, sentir emoções, sensações, via chat com pessoas que não vêem, podemos nós dizer que elas não sentem o que sentem e não se comunicam porque não enxergam o outro?!

Não precisamos olhar para ver, compreender e sentir junto com os frequentadores da Rede Mundial. Basta que sejamos mais humanos, menos prepotentes e não façamos de nossos hábitos e conceitos armaduras com almas de pedra.

Não deixando de lado os que sabem e conhecem o que estamos falando, respeitam nossa fala, mas dizem que para eles não funcionaria ou não se adaptariam. Para essas pessoas, nosso eterno respeito. 

  • Textos do Psiquiatra, Psicoterapeuta e Escritor Roberto Shinyashiki retirados do seu site pessoal: www.shinyashiki.com.br

* Grifo meu, pois é o computador um meio de Comunicação entre as pessoas, entre terapeuta e cliente.

Márcia Homem de Mello © - Ex Diretora Presidente ABRAPSMOL - Psicóloga e Psicodramatista

** Publicação de 2000

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