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Destino ou coincidência?
Por: Fernando Puga - Site Bolsa de Mulher


A situação é a seguinte: você está no aeroporto, aguardando por seu vôo, que sairá em meia hora. De repente, um funcionário da companhia aérea, com o mais constrangido dos semblantes, avisa-lhe que, por um erro sem precedentes, o avião lotou e você precisará ser remanejada para o próximo embarque. Pê da vida, como lhe é de direito, só lhe resta, depois de reclamar e xingar, mesmo esperar. Só que, durante esse aguardo, uma notícia pavorosa chega aos seus ouvidos: o avião em que você deveria estar, não fosse o tal "erro sem precedentes", sofreu um acidente. Diante dos fatos, em terra firme e segura, depois de agradecer aos céus pela displicência dos funcionários da companhia, sobra apenas perguntar aos mesmos céus qual a razão de tão extraordinária coincidência. Ou, finalmente, se convencer de que nada, ou quase nada, é por acaso. 
Nada melhor do que situações como essa para levantar a velha questão em nossas já muito ocupadas cabecinhas. Afinal, quem nunca se pegou pensando se a trajetória de nossas vidas está prescrita ou se aquilo que cruza nossos passos, às vezes de maneira surpreendente e definitiva, é mera coincidência? Os céticos, da sua parte, nem mesmo perdendo todos os aviões malfadados do mundo, se deixam levar pelas teorias. “É tudo acaso, convergência de fatos. É claro que isso impressiona muito quando acontece e é natural que as pessoas acreditem que aquilo tenha sido de alguma forma ‘armado’ para acontecer. Mas destino, situações pré-determinadas, nada disso existe, pelo menos pra mim. Acho que a idéia me assusta porque não gosto de pensar que não controlo minha vida”, defende-se a agnóstica Jéssica Amaral.
Agora, mais difícil do que não se deixar levar pelas “evidências” desses casos, é encontrar alguém que nunca os tenha vivido. “Tive uma namorada que trabalhava no Shopping Osasco e perdeu o ônibus de ida no dia em que aconteceu a explosão lá, que vitimou muita gente. Quando ela chegou, a tragédia já tinha acontecido. É impossível, numa situação dessas, não crer piamente que algo de sobrenatural aconteceu”, revela o técnico de informática Marcelo Auguri. “Um amigo meu estava no banco de carona no carro de outro amigo. Ele se abaixou para pegar uma coisa no chão no exato momento em que o carro capotou e, por isso, não sofreu nada sério. O que estava no volante teve traumatismo craniano, vindo a morrer poucos dias depois. Como uma coisa desse tamanho pode ter sido mera coincidência?”, questiona a jornalista Eduarda Bastos.
Encontros engendrados por energias superiores também solidificam muitas idéias a respeito de um percurso traçado antes mesmo da maternidade. Um bom exemplo disso são as chamadas almas gêmeas. “Eu estava no trabalho, me sentindo um pouco mal, tonta, indisposta. Meus colegas todos me aconselhando a descer para sair do prédio e respirar um pouco, mas eu preferia ficar sentada na minha mesa. Dez minutos depois, meu ramal tocou com o porteiro pedido para que eu trocasse meu carro de vaga, porque ele estava obstruindo a passagem de um veículo da empresa, ou seja, tudo me forçando a ir para a rua. Decidi descer. Quando cheguei na portaria, encontro, por acaso, um ex-namorado do tempo do colégio que estava passando por ali na mesma hora. Nos falamos, surpresos, trocamos telefones, refizemos contato. O resultado desse encontro é que estamos casados há onze anos”, conta a advogada Célia Mauro.
A psicanálise, o espiritismo e a astrologia têm visões muito particulares sobre essas situações. Márcia Homem de Mello, psicodramatista, acredita na força desses “acasos” como excelentes pontos de reflexão. “Crer ou não num destino pré-existente, numa força que comande esses cruzamentos é algo pessoal, relacionado à religiosidade. O ser humano necessita de explicações e, diante de situações extraordinárias como essas, vai buscá-las no sobrenatural. Esse contato pode nos fazer pensar melhor a vida e nossas relações”(*), comenta ela. A leitura espírita, por sua vez, não acredita na gratuidade dos acasos. “Para o espiritismo, nossos caminhos são tão bem engendrados por Deus que não haveria espaço para coincidências. Todos os encontros, todas as vivências, têm as suas razões de existir e acontecer como acontecem”, diz o estudioso de religião Fabio Perez.
Já a astrologia prefere associar esses acontecidos à sincronicidade. Graziella Somaschini usa um fato recente para explicar as conexões. “O eclipse solar do dia 8 de abril coincidiu com os funerais do Papa João Paulo II. Para nós, estudiosos de ocultismo, isso é um exemplo da chamada sincronicidade. Os acontecimentos são sincrônicos porque acontecem ao mesmo tempo e são conectados entre si, mesmo que isso não apareça à primeira vista, à luz da razão”, explica a astróloga. Para ela, devemos prestar atenção a essas pequenas seqüências de acontecimentos que podem nos preparar para um grande momento de reflexão na nossa vida. “A Cabala diz que um acontecimento maior sempre vem acompanhado de alguns acontecimentos menores do mesmo tipo e gênero, que devem servir de aviso. São essas sincronicidades que nos preparam para os acontecimentos e nos fazem ir além em nossas interpretações lógicas”, encerra ela. 
(*) Onde se lê "... é algo pessoal, relacionado à religiosidade." Leia-se "... é algo pessoal, relacionado à religiosidade, por exemplo." Faltou esse complemento por parte do jornalista. Pois por ser algo pessoal, depende da crença de cada um, e nesse ponto não só questões religiosas, mas também.

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