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"O Divã de Pernas para o Ar"
O atendimento via Internet causa polêmica e mexe com os rumos da Psicologia. Barato, móvel, versátil - defendem alguns - mas sem comprovação científica. A polêmica, assim como a própria novidade, está apenas começando.
Por: Adriana Lutfi ( Revista Internet Br - Junho de 99)

 

Uns acreditam, outros nem conseguem imaginar. Apesar de soar estranho, alguns psicólogos não têm a menor dúvida de que a "Netanálise", como alguns chamam a nova modalidade de tratamento psicanalítico, funciona. Usando a escrita como instrumento de trabalho, os mais novos polêmicos profissionais - virtuais, invisíveis, cibernéticos - estão mexendo com raízes e até com a história da psicanálise. As consultas que começam por e-mail e podem até usar chats e videoconferência, já começam no Brasil e estão sendo, em sua maioria, cobradas pela Rede. 
O preço é acessível. Não há hora ou lugar marcados. E não se sabe, realmente, quem é um e quem é outro. Mas como definir os critérios de um atendimento cibernético? Como se dá a relação psicólogo e paciente? Os psicólogos online afirmam que é possível perceber a personalidade, o caráter, e até mesmo o inconsciente de uma pessoa por meio da Rede. A escrita, segundo eles pode conter lapsos, atos falhos, manifestações de desejo, raiva e até traços de depressão. "Temos exemplos disso. Certa vez, um paciente escreveu que o relacionamento com a sua esposa não estava tão 'gostozo': ele relacionou com a palavra gozo e errou na escrita", conta Márcia Homem de Mello, da Psy_Coterapeuta On Line. "Temos e-mails com textos enormes, escritos como puro desabafo, que mostram como a pessoa se envolve com que está escrevendo. Podemos dizer que ela está trabalhando com o inconsciente", argumenta Anna Catharina de Penasse, psicóloga do Psiconline( www.psiconline.psc.br/ ), site carioca supervisionado pelo psicanalista Argemiro Vilela. "É a terapia na ponta dos dedos", resume.


Falar ou Escrever?
Mas, de acordo com o próprio Sigmund Freud, considerado o "Pai"da Psicanálise, "a escrita é um processo secundário de pensamento" cita a psicóloga e psicanalista Myriam Campêlo Barreto. "Quando nós escrevemos, uma série de condições nos tiram da 'soltura' emocional que o atendimento psicanalítico requer", diz ela. Não é a toa que o consultório é um ambiente separado da casa das pessoas, onde o telefone e a campainha não tocam, ninguém atrapalha, e a atenção ao tratamento é total. "O próprio fato de o paciente se sentir solto, com o corpo relaxado no divã, ajuda no tratamento", explica.
Myriam não vê a possibilidade de a relação via Internet ser rica o suficiente para um tratamento profundo. "O tratamento psicanalítico implica o estabelecimento de uma relação com uma pessoa a uma dimensão simbólica. Tanto que ela pode existir em um telefonema de emergência, por exemplo. Mas o encontro entre o paciente e o psicanalista revela uma série de elementos, além do próprio afeto envolvidos: os gestos, a maneira de falar, a própria preparação emocional de ir até o consultório. Esses componentes têm muito significado", alega. O acesso ao inconsciente é uma empreitada bastante delicada e corajosa na vida de qualquer pessoa. Por isso o tratamento se dá ao longo prazo", conclui.
Os argumentos prós e contra são muitos. "A Rede é um novo ambiente, que ainda não está sendo bem-entendido pela maioria dos psicanalistas convencionais", afirma Manuela de Souza, do Psiconline. "Nós não queremos e nem temos a pretensão de substituir a consulta tradicional. Este trabalho tem como base a escrita e a temática", defende Márcia Homem de Mello. "Atendemos pessoas de vários estados do Brasil e do exterior", conta Manuela de Souza. Segundo ela, cerca de 90% dos pacientes têm depressão profunda e fobia social. Myriam Barreto se preocupa: "Não se pode tratar todos os fóbicos da mesma maneira. Dependendo do caso, ele só melhora de fizer o esforço de sair, de se locomover em busca de resultados", afirma.
É Guerra?
Mesmo que ninguém queira criar um clima de guerra, a situação é de confronto de idéias. O conselho Federal de Psicologia, CFP, diz que ainda não foram apresentados, no Brasil, documentos comprovando a eficácia deste tipo de atendimento. "Os profissionais ainda não nos convenceram de que estão preparados para fazer estas consultas. Além disso, quando um trabalho de experimentação é iniciado e não há resultados concretos, ele não pode ser cobrado", alega o vice-presidente do CFP, Marcos Ribeiro Ferreira. Ele lembra que "é necessário também registrar as pesquisas no Conselho Nacional de Saúde, já que psicologia é uma área de saúde". Isso também não foi feito.
Os psicólogos virtuais se dizem "cansados" de dizer que há, em vários países, publicações e pesquisas sobre este novo tipo de psicoterapia. O site da Psiconline está traduzindo e oferecendo textos para qualquer navegante interessado comprovar. "Por que temos que provar o que já está provado?", pergunta Márcia Homem de Mello. "Nós estamos fazendo um trabalho sério", afirma. "Os psicólogos que nos criticam estão mal-informados e, ainda por cima, não manjam nada de informática", ataca. Márcia diz que foi obrigada a cancelar seu registro de psicóloga no Conselho Regional de Psicologia de Recife para não ser punida e acusada de exercício ilegal da profissão. Hoje, ela está registrada como psicodramatista, que é a sua especialidade, o que lhe permite exercer terapias de maneira mais livre.


"Nós estamos fazendo um trabalho sério. Os psicólogos que nos criticam estão mal-informados e não manjam nada de informática." Márcia Homem de Mello

Marcos Ribeiro Ferreira, que se diz um exímio internauta, diz por outro lado, que o CFP acompanha a revolução tecnológica. "Temos um site maravilhoso na Internet. E sempre apoiamos projetos inovadores. No ano passado organizamos o Psico Info, um congresso que tratava da relação com as novas tecnologias. Pessoas do mundo todo apareceram, mas nenhum dos 'cyberpsicólogos' brasileiros se apresentou! E olha que a divulgação foi grande", alfineta.
...(edição) a psicoterapeuta americana Yvette Cólon, que criou o termo "bate-papo com a ponta dos dedos" e as terapias de grupo online. Seu artigo está disponível em www.echonyc.com/~women/Issue17/public-colon.html. Outro psicólogo americano citado é Fred Cutter, que explica no site www.suicide-preventtriangle.org/VRX.htm o que é uma terapia virtual.
Roberta Corrêa, psicóloga e mestranda da Puc-Rio, diz que quando se entra nos sites de atendimento online não vê credibilidade no que acontece ali. "Nas práticas psicanalíticas, o psicólogo passa por anos de estudo, leituras e tratamento. Mas esse tipo de atendimento está se construindo através de sua prática. O que significa que os próprios psicólogos via Internet sabem muito pouco do que estão fazendo", opina Roberta. Sempre conectada, Roberta é o retrato do profissional antenado com o ritmo da tecnologia. "Mas nenhum desses 'cyberterapeutas' conseguiu me mostrar que o tratamento pode ser feito", conclui.


Psicanálise no Divã
Deixando os rótulos de lado, muita gente está procurando os sites de consultas online. "Iniciamos o atendimento em fevereiro deste ano e temos mais de 23 pacientes" revela Manuela de Souza, do Psiconline. Uma enquete montada no CanalWeb (www.canalweb.com.br/) teve 65% de votos contra e 35% a favor das consultas online. A diferença é pequena para um fato tão novo.
A psicanálise enfrenta um período de crise, que é muito maior no Brasil. Acusada de elitista, principalmente por ser cara e relacionada a intelectuais, hoje a terapia é a terapia que está no divã. Será que a Psicanálise não está precisando de um novo modelo?", pergunta Myrian Barreto. A maioria da classe média perdeu o poder aquisitivo e já paga planos de saúde, que não oferecem este tipo de atendimento. Os profissionais também sentem essa crise no bolso, já que não podem mais pagar, ou barateando as consultas. "Quando o governo cogitou colocar psicólogos para atender em hospitais públicos, o reboliço foi muito menor. Não dei entrevistas sobre isso. Mas como a Internet é algo novo e acessível para a classe média, este assunto acaba chamando a atenção", afirma Marcos Ferreira, do CFP.
O computador está permitindo novas experimentações de comunicação de um modo nunca antes visto. Com as tecnologias do CU-SeeMe, por exemplo, será possível ver o interlocutor. Mas será que isso vai realmente mudar os rumos da psicanálise? Não dá para responder ainda. O único argumento que ainda não foi rebatido é: nada substitui o contato humano. "Nenhuma interação que inventarmos vai substituir isso", afirma Sônia Grisolia, publicitária, Macmaníaca, e apaixonada por Internet.
AdrianaLutfi - Não quer opinar sobre esta polêmica. Aliás, ela está atrasada para a sessão de análise!

"Olá para todos,"
Quero aqui eu, Márcia Homem de Mello, fazer algumas perguntas a mais para saber qual é a fundamentação dos CRPs e CFP em relação ao atendimento psicológico e terapia on line:

  • Quantos dos Conselheiros, Secretários, Suplentes em seus cargos atuantes no momento, tem real conhecimento de informática e que possamos discutir de igual para igual na mesma linguagem sobre o atendimento online? 

  • Quais são desses mesmos membros já citados, que tem conhecimento real da literatura, dos sites do exterior e do Brasil que falam sobre terapia online? 

  • Por que jogar nas nossas mãos a responsabilidade te obter provas e pesquisas do atendimento online? Essa não é a função do órgão responsável pela nossa profissão?

  • Aliás a função dos órgãos responsáveis não é manter-nos a par de tudo que acontece na nossa profissão e, termos de avanço, teorias, técnicas e metodologias surgidas no país e no mundo? 

  • Por que agora cabe a nós profissionais essa função? Se vamos fazer grupos de estudos, pesquisas, entregar todo material que conseguimos durante horas, dias, meses de navegação na Internet, e das nossas vivências e práticas pessoais? Para que então temos os órgãos responsáveis pela profissão? 

  • Será que a estes órgãos ficou só a função de liberar ou não, de punir ou não seus profissionais? Quais os critérios para fiscalizar/aprovar ou reprovar o atendimento online? 

  • Se eu paguei 5 anos de formação, mais 2 de especialização, e agora só posso utilizar minha especialização, para que inúmeros profissionais já formados, e os estudantes ainda em formação fizeram ou fazem Faculdade/Universidade?

  • Por que o medo em abrir mais campo para os psicólogos atuarem? 

  • Por que até agora nenhum de nós, os por eles chamados de "Cyberpsicólogos", foi procurado pelos seus CRPs/CFP para tomarem conhecimento do que estamos fazendo? Pois só vi até agora o inverso acontecer.

  • Por que quando me coloquei a disposição para conversa, ajuda, parceria, não obtive abertura?

  • Se preciso fazer uma pesquisa e provar o meu trabalho pelo Ministério da Saúde, as coisas para o lado dos psicólogos brasileiros que utilizam ferramentas, metodologias e técnicas do exterior vai ficar muito complicada. Por que surge essa obrigação só agora? 

  • Se for proibida o atendimento psicológico via Internet no Brasil, vou exigir do órgão proibidor, Provas Concretas, Ministeriais e Legislativas BRASILEIRAS, de todos os testes psicológicos ( PMK, HTP, WARTEGG, ZULIGGER, RORCHACH,...), bem como de outras técnicas teóricas utilizadas em consultórios, como Caixa de Areia, Interpretação de Sonhos, enfim, tudo que sabemos ter origem no exterior e que de lá foram aprovadas e testadas, e que nós psicólogos brasileiros não testamos, pesquisamos, e que o Ministério da Saúde nem sabe de suas existências. Afinal, quem no Brasil, fez pesquisa para provar a eficácia da utilização do DIVÃ? 

  • Por que as respostas obtidas por nós até agora dos órgãos responsáveis pelo destinos de milhões de psicólogos formados, e que tem nas mãos o destinos de outros milhões de estudantes de psicologia, são sempre respostas punitivas, ameaçadoras, e de diálogo repetitivo? Cadê a teoria, técnica, informação por parte dos responsáveis em fiscalizar o atendimento online, para que as conversas sejam feitas na mesma altura? 

  • Se o vice presidente do órgão maior diz que não participei de um evento o qual apresentei 2 trabalhos, quem esteve lá e os apresentou? Por que até no momento em que se deve valorizar os trabalhos dos "Cyberpsicólogos" BRASILEIROS, resolve se dizer que só participaram psicólogos do exterior? Nesse momento os psicólogos do exterior servem como parâmetro? 

  • Só um adentro: Meus trabalhos apresentados no I Psicoinfo, onde dizem na matéria que não participei, uma vez que sou um dos "Cyberpsicólogos", se encontram disponíveis nestes sites: 

1- "Iniciando Terapia pela Internet "www.homemdemello.com.br/psicologia/terapiainternet.zip (arquivo para donwload)
2- "Computador Elimina Defesas" www.homemdemello.com.br/psicologia/eliminadefesas.zip (arquivo para donwload) 

3- Bem como no próprio site do Conselho Federal de Psicologia (http://www.psicologia-online.org.br/trabpsicoinfo.html)

  • Quantos psicólogos temos inscritos no Brasil todo, em dia com suas mensalidades, sob a responsabilidade dos CRPs e CFP?

  • Por que eu não posso cobrar por um serviço que estou prestando? Alguém atesta todos os psicólogos atuantes no Brasil a cobrar ou não pelos seus serviços? Alguém atesta os psicólogos em seus consultórios, se fazem os seus atendimentos de forma correta? Alguém fiscaliza todos os atendimentos realizados em instituições?

  • Por acaso se o atendimento for gratuito, com finalidade de pesquisa, e o cliente for avisado que faz parte de um projeto, o atendimento psicológico muda de eficácia? 

 

Quero aqui finalizar, lembrando dos poucos profissionais que fazem atendimento domiciliar, ou seja no ambiente de seus clientes e não em consultórios. Também informar que venho sendo procurada por inúmeros estudantes de todo o Brasil, de psicologia e de outros cursos, que estão realizando trabalhos sobre temas relacionados a Internet. Como não se pode mais impedir o acesso das pessoas as informações com a chegada da Internet, ou as pessoas se informam para poder informar, os simplesmente serão informadas sobre.
 

Questionamentos acrescentados em 10/12/99:

  • Se o atendimento on-line não é eficaz por necessitar por parte do psicoterapeuta, visualizar o cliente e dessa forma analisar a linguagem corporal, a profissão seria discriminatória com os deficientes visuais. E porque não dizer também, dos deficientes auditivos  

Agradeço a atenção a estes questionamentos, que mesmo que permaneçam sem respostas públicas, cada um por si só, poderá ter suas respostas individuais. Por isso, informe seus colegas e os estudantes sobre o assunto. 
Abraços, 
Márcia Homem de Mello ©
Psicóloga - CyberPsicoterapeuta - Psicodramatista - Ex Diretora Presidente da ABRAPSMOL
http://www.homemdemello.com.br/psicologia 
http://www.abrapsmol.com.br (Site desativado)

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