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Um novo "normal" 

Um caminho sem volta pós Covid19
Por: Márcia Homem de Mello© - Publicação Maio de 2020

Em meados de 1990, os primeiros contactos com uma Internet mais acessível, um enorme campo de probabilidades, cativou fãs do mundo inteiro. Eram horas online numa janela aberta dentro de casa, possibilitava conversas e visitas a locais onde havia uma conexão. Cada vez mais conteúdos de pesquisas e bibliotecas online, pressionaram espaços físicos e livrarias. Assim sumiram, os LPs e as fitas VHS, locadoras não sobreviveram, escrever uma carta começou a perder adeptos para correios eletrónicos.

Desde 1999 comecei a escrever e questionar sobre o aproveitamento do ambiente virtual, repensei a minha própria profissão. Consultórios de terapia online, num espaço notável de pessoas a manifestar condições precárias de saúde mental. Escrevi "Internet e Informática" na primeira tentativa de mostrar essa nova ferramenta aos profissionais de saúde e aos indivíduos. 

Muitos dos textos, como o "Mundo na e da Internet", ou "Onde está o limite do on-line?", para mostrar os ganhos ou perdas com a tecnologia. Em meados de 2000 escrevi também "Educação e a Informática", quando questionei sobre os espaços escolares e aperfeiçoamento de professores. Era uma reflexão sobre o aproveitamento da tecnologia para somar, melhorar e motivar. Muitos conseguiram usar positivamente as novidades da informática e a virtualidade, reinventaram-se, fizeram cursos e surfaram na onda tecnológica. 

Esboço computador
home office

A questão que procurei trazer para reflexão: 

- Que aproveitamento do ganho em horas, as pessoas tinham, já que os deslocamentos, o trânsito ou enfrentar uma fila bancária, não eram mais necessários?

Observava escolhas feitas, estas seguiam na somatória de funções ou ainda mais atividades curriculares e/ou horas trabalhadas. Não havia um ganho saudável!

A Internet é um ambiente virtual, no qual o humano resolveu "morar", em troca de rapidez, muito conhecimento, mas pouquíssimo ganho em qualidade de vida. São absorvidos pelas telas e sequer notam pessoas e cenários reais.

Hoje, diante da pandemia, do confinamento, todas essas questões estão finalmente em discussão mais profunda. Há estímulo e incentivo ao online, pela falta de opção. Mas há um novo olhar, para a saúde física e mental, com menos rejeição, preconceito, mais flexibilidade e compreensão. 

A tecnologia avançou MUITO e rapidamente nesse pouco tempo. Há gerações que nunca ouviram um ruído de modem conectar durante a madrugada, basta um smartphone, um chip e está conectado. Essas mesmas gerações, ainda ocupam salas de aula e laboratórios, nada sociáveis. Empresariais cada vez mais altos, cheios de luxo e portas fechadas. Parecem extensões das casas, onde cada um construiu um mundo em cada quarto. Brincar na rua ou com o vizinho? Mal cumprimentam-se nos elevadores. 

Mas como encarar a obrigação do uso tecnológico, sem socialização física?

As conexões de rede, continuam instáveis, como os humanos nos seus sentimentos e emoções. Precisam avançar como seres que ocupam e modificam o ambiente, rever a qualidade do que consomem, ao invés de quantidade descartável. Há de se Incluir espaços para socializar com todos, dentro do mesmo meio de produção, seja ele académico ou linha de montagem. Produzir melhor, não mais, comprar menos e aproveitar a vida.

Home office, teletrabalho são agora uma realidade e então, finalmente haverá mais tempo para o autocuidado? Ensino a distância, possibilitará convivência de qualidade entre os filhos e os pais, tão ausentes em suas vidas online? Que espaço ocupará o ensino e os professores? Jovens vão continuar isolados em seus smartphones?
Hoje, famílias estão separadas, não é possível abraçar os amigos, crianças crescem sem convívio social, num momento de desgaste e estresse. A tecnologia ameniza todo o processo, nos conecta. Porém, notamos que ela não substitui o abraço físico, o beijo, toque, pele com pele. Se o isolamento físico lhe deixou confortável, repense seu nível de vida off, seus medos, fugas ou fobias.

As festas estão online, muitas comemorações, videoconferências, lives. Nunca se consumiu tanto conteúdo online, nem houveram tantas opções e possibilidades exploradas na virtualidade. As plataformas e APP se reformularam. 

A pandemia colocou todos online 24h por dia, em troca, isolou cada indivíduo em si mesmo. É preciso compreender a importância do momento, na sua amplitude e individualidade.

Anos se passaram em fuga do autoconhecimento, quando tempo de folga, era espaço para sentir culpa de estar no ócio. Afinal, a ociosidade que era o instante de "voltar-se para dentro", representava o perigo de descobrir sobre nós, coisas das quais fugíamos.

Enquanto a ciência busca a cura do Sars-Cov, cure a sua mente de condições estressantes, angustiantes, deprimentes e sufocantes. Chega de tanta cobrança pessoal. De nada adianta ter, se não és saudável no ser. 

Percebemos também, que é necessário e urgente um olhar humano e igualitário, para a classe vulnerável, que diante de tanta tecnologia, não viu mudanças significativas em seu meio social e económico. Perdem todos.

Existem novos e verdadeiros heróis, de carne, osso, podem ser nossos vizinhos, não moram nas páginas de um livro, revista ou tela de cinema. São médicos, enfermeiros, profissionais da limpeza, dos supermercados, das farmácias, os motoristas, bombeiros, policiais, atores, cantores, humoristas, jornalistas, cientistas, engenheiros, biólogos e tantos outros que anonimamente cumprem o seu papel.

Mundo deu um "xeque-mate"! A pandemia vai passar. 

Quando encontrarem a cura do Covid19, qual será o aprendizado que você não deixará para trás? Quem serás nesse novo mundo planetário? E a geração mais jovem, os que nasceram em 2020, que lição desse momento da saúde mundial, repercutirá em suas histórias de vida?

Indo para um passeio
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