Psy_Coterapeuta
A sua terapia online desde 1999
Terapia On line. Que história virtual é esta?
Por: Claudia Costa - Revista Xerox do Brasil online - Coluna XPING XPONG
A Web não está mudando apenas o perfil das profissões tradicionalmente ligadas à informática. A cada dia surgem opções de serviços on line, algumas acompanhadas de muita polêmica, como é o caso do atendimento terapêutico. Formada em psicologia, com especialização em psicodrama, Márcia Homem de Mello está no epicentro desta discussão. Este ano levou ao ar o site que divulga seus serviços e está à frente da criação de uma associação que pretende regulamentar a atuação nesta área.
Quando esta prática começou a se disseminar no Brasil?
Entre 96 e 97, por iniciativa de um ou dois profissionais. No exterior existe há cerca de 10 anos, inclusive com produção de pesquisas, associações formadas, código de ética, enfim várias ações que comprovam a receptividade a este tipo de serviço. Comecei a atuar neste nicho por solicitação de amigos no ano passado e, no começo de 99, divulguei o serviço no ar (http://www.homemdemello.com.br/psicologia/). Foi quando a imprensa começou a abrir muito espaço para falar no assunto.
Este atendimento é restrito a algumas linhas de terapia?
Creio que qualquer linha possa ser adaptada para o atendimento on line. O que o profissional vai fazer é adequar sua técnica a este novo veículo. Até por isto estamos criando a associação - para que os terapeutas contem com orientação para adaptar a forma como tradicionalmente vêm conduzindo seu trabalho. Esta relação que costumam fazer com divã virtual não se aplica a muitas destas linhas, como é o meu caso. O psicodrama (A) atua com dramatização e nunca utiliza o divã.
Como se dá o atendimento?
As pessoas me procuram por e-mail e faço no início alguns questionamentos, também por e-mail, para conhecê-las e para que tenham um primeiro contato comigo. Posteriormente, marcamos uma entrevista on line, usando o chat do ICQ, quando procuro esclarecer todas as dúvidas. Somente depois disto é que acertaremos preço, dias e horários fixos.
O preço da consulta on line eqüivale ao que é cobrado nos consultórios?
Como faço nas consultas tradicionais, o valor (B) é sempre combinado com o cliente. Mas em geral o preço é mais baixo.
"Em um dos sites dos EUA contei 200 profissionais cadastrados prestando este serviço. Lá esta prática é muito comum, principalmente como recurso para as pessoas que viajam".
Há restrição a algum tipo de paciente?
Existem os casos em que há um comprometimento médico, com demanda de um acompanhamento particular. Não estamos lançando algo que poderá atender a qualquer caso. Na primeira entrevista com o cliente é possível detectar isto. Caso somente se perceba esta particularidade mais à frente, é responsabilidade ética do profissional encaminhar o cliente para o atendimento adequado.
O que motiva as pessoas a buscarem a ajuda do terapeuta virtual?
A procura por este tipo de atendimento não se dá apenas em função do perfil da pessoa (C), mas muito também por conta de questões práticas. São Paulo, por exemplo, é uma cidade onde a locomoção é muito difícil. Além disso, o atendimento on line permite maior flexibilidade de horário. Percebo , por exemplo, que muitas pessoas estão optando por fazer a sessão no primeiro horário da manhã, chegando um pouco mais cedo em seu local de trabalho, em horário de almoço ou à noite, quando chegam em casa. Outro dia, por exemplo, comecei a atender uma brasileira que está morando no Japão. Com dificuldades com a nova língua e vivendo em uma cultura tão diferente, ela não conseguiria ser bem atendida por um profissional daquele país.
Quais as maiores resistências que vocês estão encontrando?
No Brasil enfrentamos uma grande barreira dos órgãos fiscalizadores da profissão. Eu mesma recebi convocação do Conselho Federal de Psicologia para me apresentar, porque julgam o meu atendimento irregular. Eles alegam que não existe comprovação científica da eficácia do exercício terapêutico on line. A posição destes órgãos é que este tipo de serviço seja prestado gratuitamente com o intuito de pesquisa. Mas sabemos que este tipo de estudo pode levar cinco ou seis anos. Sem contar que é redundante fazer uma pesquisa para comprovar o que já foi fundamentado por estudos realizados no exterior. Com esta pressão (D), decidi cancelar minha inscrição no Conselho de Psicologia, já que como psicodramatista não tenho por lei que possuir um diploma de graduação nesta área.
"O termo saúde mental se refere a toda e qualquer categoria que envolva a saúde psicológica do indivíduo, não necessariamente um doente psiquiátrico".
E como a comunidade acadêmica está se posicionando sobre o assunto?
Estou recebendo quilos de e-mails de estudantes de psicologia. Seja por conta dos trabalhos que os professores estão passando sobre o tema, seja para saber como se dá a ética neste trabalho. O Código de Ética dos psicólogos, por exemplo, não contempla o assunto, pois na época em que foi elaborado este trabalho não existia. Tanto que a única forma que o Conselho de Psicologia encontrou para enquadrar esta prática como exercício irregular foi no artigo que trata do atendimento por telefone, onde estão previstos os serviços pelo número 0900, associando o fato de também usarmos a linha telefônica. Mas acho que em algum momento eles terão que rever esta postura, pois prevejo que dentro de no máximo dois anos esta seja uma prática tão usual que os órgãos reguladores não poderão manter este bloqueio
Hipertextos:
(A) No caso do psicodrama, que atua com dramatização, como é possível fazer este processo on line?
Nós hoje trabalhamos muito com a escrita, portanto não há problema de incompatibilidade com a Internet. E o que tenho percebido é que as pessoas têm respondido muito rápido à terapia on line. Além disso, daqui a pouco tempo já teremos disseminado na informática o uso da voz e da imagem através de câmeras.
É possível vazar informação?
É quase impossível isto acontecer, porque o racker teria que estar seguindo o meu número de IP e o da outra pessoa, saber o horário da consulta e ao mesmo tempo estar tentando se infiltrar. Como o período de consulta é em média de uma hora, ele não tem tempo suficiente para conseguir entrar.
(B)O preço mais baixo que o praticado no consultório pode tornar a terapia acessível a um número maior de pessoas?
Sem dúvida. Meu principal objetivo ao lançar este serviço foi facilitar o acesso à terapia. Não estou me pautando muito por preço. Quanto às críticas de concorrência desleal, respondo que esta é uma oportunidade para disseminar nosso trabalho. Na medida em que as pessoas têm contato com o atendimento terapêutico e o achem interessante, poderão partir para um atendimento face a face. Comigo já ocorreram dois casos de pacientes que começaram a terapia on line e passaram para o atendimento em consultório.
(C) As pessoas que procuram o atendimento on line são em geral usuários assíduos da informática?
Não necessariamente. Tem gente que não sabe utilizar o ICQ. Eu então as oriento sobre a melhor forma de acesso e sobre as normas de segurança.
Qual o perfil destes clientes?
A princípio diria que todos têm um pouco de timidez, mas não podemos generalizar. Percebo que têm receio e até um pouco de medo do que os outros vão dizer se procurarem um psicólogo. Adjetivos como fraco, maluco ou a dúvida sobre a possibilidade de ter sucesso no processo terapêutico são coisas que criam resistência e receio.
E como vocês trabalham isto, já que estes pacientes podem se sentir protegidos pela distância?
Da mesma forma que trabalharia no consultório. E tenho conseguido chegar mais rápido às questões causadoras de conflito do que no consultório.
(D) A associação que está criando tem como objetivo fazer frente a esta pressão dos órgãos de classe?
A Abrapsmol (Associação Brasileira de Psicólogos e Profissionais de Saúde Mental On Line) é a primeira entidade voltada para este tipo de atuação no Brasil e está em fase de registro. A proposta foi colocada no ar em maio e em uma semana foram cadastrados dez profissionais, o que comprova a carência por uma associação como esta. O objetivo é oficializar e regulamentar esta prestação de serviço, além de orientar os profissionais quanto ao processo de atendimento on line. A Abrapsmol vai estar atenta e acompanhando todos os sites com serviços deste tipo oferecidos na Internet. Na mesma linha do atendimento on line, a entidade é também uma associação virtual, aberta a participantes do Brasil inteiro.